quinta-feira, 28 de junho de 2012

A Narciso

Foi em um dia qualquer que aconteceu.
Me pintava diante do espelho
quando refleti:
talvez aquela não fosse eu.

Coberta de códigos
fui me despindo.
Das alegorias do mundo
me despedindo.

Nua, mirei meu reflexo,
pensava encontrar minha essência.
Mas tantas semelhanças
eram meras aparências.

E aquela aparência
me enebriava.
Quem era ela?
Não era eu , ou era?

Sem coragem para fugir, fiquei alí.
Petrifiquei.
Quanto mais refleti,
menos me enxerguei.

No nevoeiro da mente, me perdia.
Do reflexo, uma luz fugidia
me guiava,
mas também cegava.

Anoiteceu.
Procurei em vão me encontrar.
Tateei meu corpo, a pele, a carne, a sombra,
nada estava lá.

Vagueei  noites sem fim.
Vazio,
era apenas  um cristal frio.
Até que, num clarão, te vi.

Claro e vivo, bem perto, olhavas para mim.
Sorrias,
sorri.
Foi então que compreendi:

Já fui outra
e muitos.
Hoje sou vários e um
reflexo de ti.












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