terça-feira, 17 de novembro de 2015

Canção do Exílio de Mariana

Minha terra tem Mariana
Onde morreu o Sabiá
Aves que ali gorjeavam,
padeceram de lamentar.

Nosso céu tem menos brilho,
Nossas várzeas zero flores
Nossos peixes já sem vida,
De nossa vida restam dores.

Em cismar sozinho, à noite
só tristeza encontro eu lá;
Minha terra tem Mariana,
Onde morreu o Sabiá.
Minha terra tem horrores,
Criminosos que não encontro cá.

Em cismar, sozinho, à noite
só tristeza encontro eu lá;
Minha terra tem Mariana,
Onde morreu o Sabiá.

Não permita, Deus, que o rio morra,
e que os bandidos se safem pra cá;
Que paguem atrás das grades
pelos crimes ambientais de lá;
Que um dia a vida volte,
e que volte o Sabiá.

Saudade

Do sonho pueril,
Do paraíso infantil,
Do gosto da goiabada,
Da vida tão certa, tão dada.

De brincar no quintal
Do avô tão paternal,
Das tardes de Domingo,
Dos dias findos.

De andar no muro,
De ouvir um sussurro.
De comer jambo,
De falar "te amo".

De desperdiçar o tempo.
De desenhar com o vento.
Das nuvens engomadas,
Da vida soterrada.

Do rio que não verei,
do homem que não serei.
Da princesa que não fui,
Do rio que não flui.

Do fim da guerra,
De começar uma nova era.
Da crença no futuro,
Da luz no fim do túnel.

Do banho sem prazo,
Da vida sem atraso.

Poema pros gatinhos

Em casa somos três
Eu, Valente e Amèlie.
Eu sou o menos humano
entre os que vivem aqui.

Até pareço gente.
Sou o mais racional,pense!
Sem rabo, ando ereto,
uso todo dia o cérebro.

Valente é aventureiro;
Amèlie, amor inteiro.
Vivem sempre o presente,
Respiram amor, sentem.

Rio Doce

A chuva que atormenta a porta,
A lama que soterra a horta.

O ar pesado de peixe morto,
Aorta entupida de desgosto.

O tempo preso neste Rio
Doce que jaz, sangra minério.

Na boca o vermelho, sou rio
e a mastigada dos impérios.

Pancadas à porta, um calafrio...
Rezo pela chuva e espero.



segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Bailarinas de cerâmica


Neste palco de papel opaco, 
rodopiam bailarinas de cerâmica.
Paciente, espero o fim da dança,
anunciado pelo tilintar dos passos.

Executo meu ofício, recolhendo os cacos.

Lá fora, o homem guarda a chuva,
escurecendo o dia com sua sombrinha.
Aqui, apago as luzes do teatro,
finda a esperança do próximo ato.

Noturnos à luz do dia,
avançamos sem avanço
os pés presos no solo,
o solo preso no cimento.

Fragmentos de bailarinas no pensamento.



Monocromia

Mais um dia,
tudo bem,
tudo sem,
monocromia.

Monotonia
cinza
que me veste
de asfalto.

Paro na calçada,
na espera
de um sinal,
do próximo passo.

De vermelho,
só os olhos
pesados
de cansaço.



quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Poema diabético

Um poema diabético se origina do leite condensado,
é trabalhado no chocolate
e ao creme de leite é misturado.

Um poema diabético é desprovido do sabor do brigadeiro,
(pausa para um suspiro)
do doce de leite, de goiaba, de jabuticaba ou do sorvete de queijo.

É um poema sem palavras doces,
cajuzinho, beijinho, moranguinho...
Que vê perigo até nos diminutivos!

Mas nem por isso deixa de ser salivante,
aumenta imediatamente a glicose no sangue!


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Dasdores

O mundo não é dos Sonhadores
talvez seja Dasdores
que passa todos os dias
por essa calçada descalça.

Tudo para ela lhe corre bem
se é amargo, se arde, está sempre sem
se queixar da vida, ou da sorte.
Caminha como quem caminha pra morte

Com passo certeiro,
murchando as flores dos canteiros,
Dasdores não engana,
não teme, nem finge que ama.


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Retratos de família

Procuro nos porta-retratos
os destroços de meu passado,
as magoas familiares,
a ruína de todos os lares.

Rostos que não dizem nada
sorriem de minha desgraça,
eternizando ficções,
margarinas de emoções.

É possível ler meu presente
nas entrelinhas dos ausentes?
Que gosto terá o passado
de um futuro  amargo?

Em busca de sentidos,
devoro as fotografias
de parentes esquecidos.

Memórias queimam no estômago.
Na boca, um gosto ácido,
uma ânsia de vômito.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Escrevo

Escrevo para fugir da morte,
para não depender da sorte,
ou do sucesso que alimenta os egos.

Retorno sempre ao papel,
caneta, lápis ou pincel.
Escrevo, desenho ou pinto,
o que me foi dado como destino.

Tento unir o futuro ao passado,
Escrevo para restaurar
os homens fragmentados.


terça-feira, 1 de setembro de 2015

Desconfiada

Sou feita da mesma natureza
De que são feitos os seres desconfiados.
Tenho pele de camaleão
E olhos de coruja,
Caminho apressada pelas ruas.

Não confio em esquinas,
Nem em portas abertas,
Tampouco em coincidências do destino.
Por via das dúvidas,
Dou duas voltas na fechadura.

Certa vez escutei um canto:
Era a canção da bondade humana.
A sereia que encatava
Com sua boca infinita
Os corações devorava.

Não me oriento pela beleza do reflexo,
pela doçura do discurso,
Ou pela fragrância do gesto.
Prefiro ser gato
com olhos bem abertos.

Rio morto

O cheiro de esgoto deste rio morto
Invade a praça de alimentação.
Onde comerei então?
Que lugar será permitido?
Estaciono meus pensamentos neste edifício.

Muitas camadas de asfalto
São necessárias para afastar o barro
Que, sob meus pés, sangra
As dores das carnificinas
Testemunhadas pelas esquinas.

Sob o fogo do progresso
O homem prometeu o certo,
Criou a águia da economia,
Que devora seu fígado todos os dias.

É meu sangue neste prato de porcelana.
Minha alma vira lama.
Sinto o gosto do esgoto
E me vou com este rio morto.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Como dizer o não dito?

O doce na geladeira escondido.
O desejo contido.
O vulto passageiro.
Ou o arrepio dos pelos.

Por isso sonho.
E meu sonho é recheado de caramelo.
Na frialdade do real,
é difícil o amarelo.

É que quando a luz está acesa,
os vapores se dissipam,
os gatos fecham os olhos
e os homens passam.

Na sala de espera

Todos assistem à TV.
Estou ausente,
ninguém me vê.

É porque não me conhecem
assistem à TV
e envelhecem.

Calmante

Alma
com
Amante

Calmante


Tragédia

A caneta no papel,
o toque dos corpos,
o som dos corvos
o despertar do céu.

O lamento é dos sofridos.
Só enxergo gemidos.
Ensurdecedor é o drama humano,
sempre o mesmo com o passar dos anos.

Me traz amparo a tela do cinema.
-Não, não estou nessa cena.
O espetáculo em que atuo é outro,
nessa poltrona, ocupo meu posto.

Passou! é o momento dos agudos.
Meus olhos estão cansados, apenas escuto
a gravidade dos movimentos,
estamos todos atentos.

Tenho a certeza de que somos animais,
amamos demais.
E, sem mais, vamos vivendo
como quem no papel segue escrevendo.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Raiva

dos vidros estilhaçados
dos abusos do condomínio
dos dias de domingo

dos copos quebrados
dos amores silenciosos
dos dia pantanosos

da torneira que pinga
da pinga que não anima
da vida que desatina

raiva

havia
raiva
na via.

Refluxo

O concreto cai no carro.
Avanço mas não te alcanço.
O gato mia exigente.
Estou atrasado.

A velocidade da vida me dá nauseas.
Passageiros, ao longe te reconheço.
Os papeis somem da mente.
Perdi o compasso.

Vidro pra todos os lados.
Falta tino a nosso destino.
A raiva se aproxima dos dentes.
Qual o próximo ato?

Nos refluxos do caminho,
Sigo sozinho.
É que o chão é degelo.
O dia está claro, esqueço.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Azedo

Tomo um cafezinho.
Aprecio o gosto imperceptível das diferenças das torras dos grãozinhos.

É hora do almoço.
No meu prato esqueceram a carne, só botaram o osso.

Tenho de voltar ao trabalho.
Não sem antes mastigar um dente de alho.

Pausa para um brigadeiro.
Lembro dos romances que vivo no travesseiro.

À noite amargo o livro, amarga a TV.
Amargo ser.

É Dia!
Rima com Alegria!

Escovo os dentes no banheiro.
A pasta tem um gosto azedo.

Noturno

O frio da espinha.
A água que goteja.
A lâmpada acesa.

Os dentes a ranger.
Os sons que não escuto.
O gosto do refluxo.

O chiado da TV
A falta de perspectiva.
O beco sem saída.

O inseto no banheiro.
O tombo na floresta.
O fim da festa.

Um pio de coruja.
Um olhar amarelo de gato.
Na janela, um sapato.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Rua do Imperador

Impera-dor,
Tuas esquinas refletem meu temor.
Meus olhos a amargar.
É noite, tuas calçadas viram lar.

Percorro teu calvário,
Paro no sinal vermelho,
Observo teus rostos pelo espelho.
O sinal verde é implacável, sigo solitário.

Noturnos, somos todos invisíveis,
Sejam homens frívolos ou sensíveis.
Dos emparedados do convento,
Aos vivos nu vento.

O eco do vazio de teus prédios
Me tira do pensamento o tédio.
Sonho teus improváveis dias de grandeza,
Escondidos sob camadas de tintas espessas.

Acordo pelo silêncio opressor de tuas portas fechadas.
Só restou calçadas.
O passado nunca está morto.

É noite, sigo absorto.


terça-feira, 4 de agosto de 2015

Bem-me-quer

Ele foi o meu primeiro amor,
meio-dia de calor,
mas a timidez foi mas forte,
com ele, só as outras tiveram sorte.

Ele foi o mormaço da comodidade
ou questões mal-resolvidas da idade.
Não o quero mais por perto,
foi o que por mais tempo deu certo.

Ele me mostrou nossa árvore
e disse "me devore".
Foi um touro animal,
derrubei sua árvore com cal.

Ele me cantou num show
fomos rock-and-roll.
Aventuras de amor ao infinito,
Seu jardim era um agito.

Ele me tirou pra dançar,
eu  só queria amar.
Me fez sua amante, sua amiga,
sequei sem lágrimas nem brigas.

A ele lhe quero bem
bem-me-queres também?

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Guararapes

Da parada pro colégio,
Do colégio pro trabalho,
Do trabalho pra faculdade.
Andei, esperei e atravessei em todos os pontos da Guararapes.

Do sebo, onde comprava livros do professor,
Dos Correios, de onde colecionava os selos,
Das filas de Sítio dos Pintos, Torrões, Monsenhor Fabrício, Roda de Fogo, etc.
Em média 45 minutos de espera.

Do happyhour do expediente,
Do Savoy, onde cantei quase em inglês,
Do Destaq, onde as saideras não tinham fim,
E ônibus elétrico! foi delícia e foi tormento para mim.

Dos dias que antecedem o Galo,
Dos apitos de cocoricós,
Dos coloridos de carnavais.
Guararapes a pé pra nós!

Dos sapateiros, livreiros e pipoqueiros,
Do algodão doce e da água coco,
Dos vinis, santos, rosas e panfletos
- Aceito vale A, vale B, vale C, ticket ou um beijo!

Dos prédios vazios,
Das paredes descascadas,
Das festas noturnas escondidas,
Aventuras loucas de idas e vidas!

Do tarado do ônibus, do ladrão de celular, dos cheira-colas,
Dos pedintes, dos mendigos, dos loucos diversos,
Do grito, da bolsa apertada no braço, da carreira, dos conselhos.
Essa parte nunca esqueço!

Do banco às bancas de jornais.
Dos contratos aos noticiários.
Do trabalho  ao passatempo.
Fudidos, achados e perdidos, todos unidos!

Das chances de mudar de vida às filas pra pagar a conta.
Da cópia do documento à falta de monumento.
Do artesanato ao quiosque mais barato
Tudo aqui segue um compasso

Do passo
Da pressa
De quem atravessa
sem desespero
no sinal vermelho
sem medo da morte
pois confia na sorte
e reza
pra chegar no endereço
Guararapes
Eu também envelheço!


Quem são os isentos?

No aniversário da falsidade
Encontrei todos os felizes da cidade
Entre um brinde, um sorriso e um abraço
venenos melando os braços.
Um gole para o não dito,
Na boca o desejo de mandar todos ao infinito.

Mentiras de porta-retratos,
Mentiras de internet e TV
Mentiras pra vê, lê e ser.

Entre um chope e um caldinho de feijão,
beijo e sinceros apertos de mão,
tento me adaptar ao mundinho 
miseravelmente humanalzinho
Mas, aqui pra nós, não sei por que tento...
Se somos todos isentos.






quinta-feira, 30 de julho de 2015

A praia V

30 segundos de espera
e do sangue
de meus olhos ardentes
vejo fugidia
uma praia

Onde as ondas são palavras
que ora dizem
ora contradizem
as areias da praia

A praia IV

À praia

Esquecida
atrás da linha do horizonte
onde o sol afundou ontem.

Clássica
de cinzenta natureza
aprisionada por sua beleza.

Fugitiva
que busco na claridade da cidade
como quem busca a felicidade.

Rotulada
que nunca pediu pra ser verdade
só um espaço de liberdade.

A praia III

A praia

Do esquecimento.
De que matéria és feita?
De fronteiras de luz.
Para olhos ardentes, uma incerta penumbra
E o silêncio das ondas, onde brotam rochas profanas.

O vento
A iluminação
A dúvida

Me aceitas?
Resquícios do elo entre o homem, a cultura e a natureza

O primeiro passo para a liberdade.





sexta-feira, 24 de julho de 2015

Frustrações

Não quebrei o braço,
Não usei óculos,
Nem aparelho nos dentes.

Mas plantei semente,
que não vingou.
Mas comprei um óculos escuro,
que se arranhou.
Mas cortei o baço,
que não cicatrizou.

Balanço

Fecho os olhos,
Tomo impulso
E vou.

Eu avoo...

O cabelo ultrapassa o meu rosto.
Eu suo,
Eu sou.

Eu avoo...

Rio alto,
Eu salto,
Não volto,
Estou solto.

Eu avoo...

terça-feira, 14 de julho de 2015

Madrugadas de domingo

Ninguém sabe o prazer que sinto
de correr na madrugada dos domingos.
De primeiro, a ponte do Limoeiro, 
que de limão nunca vi,
apenas uma ou duas  prostitutas que fazem ponto alí.
E não posso me esquecer
os barquinhos coloridos de pesca,
para o dia não entristecer.

Sigo 'vuando' pelo Antigo,
sou dona da rua, só eu e meia dúzia de mendigos.
É verdade tem os noturnos das festas,
que esqueceram da hora da cinderela,
tropegos caminham pelas calçadas.
Me divirto, mas não digo nada.
Lembro que um dia já fui eu,
adeus passado, adeus!

Observo os casarios, os prédios modernos, o rio
o esgoto, o meio-fio
e a meia vida do mangue, de quem já foi mangue-town
e agora é asfalto e cimento.
Observo, mas não lamento.
A natureza a de cobrar a conta
Chego a outra ponta,
é a ponte giratória.

Onde giram as câmeras de segurança,
gira eu, gira você, giramos todos nessa dança
da musica que não escolhi pra tocar.
Rezo pelo avanço do mar.
só ele para limpar essa cidade,
devolver ao cais sua dignidade.
Iemanjá toma minha oferenda,
Te ofereço duas Torres Gêmeas!

Por medo do viaduto,
confio mais nos becos escuros,
respiro o cheiro de peixe, 
e dou a volta nos escombros de Santa Rita.
Retorno pela Martins de Barros
(devia ser proibido dar nome de gente a rua)
rua boa é rua da Aurora, da Alegria, da União
da Amizade, até a da Saudade...

Esqueço esse meu rancor,
quando vejo o Baobá meus olhos se enchem de amor.
Não pelo palácio da corrupção,
ou pelo teatro da hipocrisia,
mas pelas praças que se encontram presas,
pela Santa Izabel, uma dama de grande beleza
e pelo Liceu, meu colégio
tão meu!

Atravesso a última ponte do meu passeio
De um lado o Sol do outro minha casa
aos meus pés o Capibaribe
Minha ponte e suas irmãs,
meu cinema preferido.
Olinda, onde nasci
Aurora, onde vivo
Recife, o ar que respiro. 

















segunda-feira, 13 de julho de 2015

A mar e o Castelo

Sob minhas unhas, areia
É tarde e o pé afunda
A onda vem e me abraça
Danço cheia de graça
Me entrego de corpa e alma
Mil peixes batem palmas

No azul escuro da mar
Encontro a minha morada
Sento à sua calçada
Com tempo os templos
Humanos a desmoronar
É destino dos castelos vir a mar

É que  amores são vagas
noites  vem, dias vão
há quem sente, há quem não
Mas nos dias de tempestade
Fuja das ondas
Corra pra feliz cidade

Lá erguerás teu castelo
Viverás rodeado de espelhos
Paredes  a te proteger
Esse será o teu reino
Tudo nele será belo
Até a mar aparecer.

Por não dizer

Para cada emoção escondida,
uma palavra não dita,
um aperto no peito,
uma facada na alma.

A cada lágrima engolida,
um gosto ácido na saliva
A cada riso contido,
um olhar longe, no infinito.

Observo o espelho,
cicatrizes é o que vejo
sulcadas em meu rosto,
até o espelho está roto.

E os cabelos ficando branco,
sem o passar dos anos.
Estou envelhecendo
mais rápido que o tempo.









terça-feira, 30 de junho de 2015

Do Recife pro Sertão

Recife...

Da rua da Praia ao Estelita,
dos coqueiros ao azulejo,
do frevo ao sertanejo,

Contemplo a cultura que afunda nesse teu solo encharcado,
tuas palafitas de 32 andares,
que se erguem onde antes (a via) mares.

Saudoso o tempo
em que acreditava haver governo.
Hoje, despachantes de empreiteiros.

Ahh! a melodia de tuas buzinas
embala meus cochilos de motorista,
indiferenças em cada esquina.

Chineses e cabras da peste por todos os cantos. É a revolução!
interfones, smartphones e todos os ones 
ardem em brasa na fogueira de São João.

xote, maracatu e baião,
um último gole de esgoto e gasolina
navego rio acima...

"Vou voltar pro meu sertão"

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Enquanto (amarelo)

Enquanto

Observava as fotografias amarelas
de meu futuro noturno,
acendi uma vela.
É que luz da vela também é de espera.

Por ter parado de fumar,
não tive alternativas, só restou o ar
amarelo que inalo de meu corpo
estarei morto?

Que importa, se tenho a eternidade dessa hora.
Olho para o relógio e o tempo não passa.
passa-tempo-passa-e-nada
nesse amarelo silencioso.

Ou louco? na loucura
da nostalgia futura do que ainda não veio
nu-frio-nu-peso
desse amarelo espesso.









Sertão

De  tão ver sertão
aprendi a ser tão
tão ser que nem sertão.

Seco de tão graveto
Areia de tão poeira
Eras ser tão de espera

Minha pisada faz rachar o chão
Meu sopro faz acender o fogo
Meu choro faz germinar o broto

Passam os sóis...
Ser tão verde,
Que verde é a cor do ouro.

Acho rio acho riacho,
rio alto e avoo o sertão
de casaca de couro.





Desculpem-me os demais jogadores

Não tenho a missão
de ser feliz,
de obter sucesso
de casar
ou fazer sexo.

Desculpem-me os demais jogadores.
Mas para viver, nada disso é preciso.

Objetivos, metas, receitas, modelos, tabuleiros,
Dados, casas, cartas
ou parceiros de competição - ação -ação...

Todos iremos perder.

Não me interesso por seguir um roteiro para a felicidade...
Prefiro a despreocupação
de quem se senta as 5 da tarde
para contemplar o desassossego das últimas sombras da cidade.








Melancolia

A Melancolia que escreve meus textos voltou de suas longas férias.
Conheceu lugares, admirou paisagens, construiu imagens...
De companhia, apenas a Solidão.

Fingiu ter amigos e amores (de verdade),
Fingiu ainda ter a idade,
Fingiu até ser de outra cidade.

Rodou, rodou, rodou e voltou...

Dos químicos aos mitos, Tudo
é Simulação
A Verdade, como uma cebola.

Aprecio seu sabor...
Forte
que arde e alimenta.

E choro...

Me cosola a Solidão.
Só, rio.
Sinto enorme euforia por ter de volta a Melancolia.

domingo, 12 de abril de 2015

A praia II

Tem uma praia
em outro planeta.
Uma praia secreta,
uma praia deserta,
uma praia que já foi cheia.

É lá onde o tempo descansa,
onde os sonhos adormecem
e onde o vento exibe sua dança.

mar que derruba a terra
Terra que vira pedra.
Pedra que vira areia
areia que retorna ao mar

Conto ao mar um segredo;
o vento vem e espalha pelos coqueiros.









domingo, 5 de abril de 2015

Deixa chover

Deixa chover
E que seja  a chuva derradeira.

Inunda todos os cantos dessa casa,
Leva as telhas, os moveis, o pó,
Não deixa sobrar nada.

Eu quero mais é reconstruir,
Inventar uma outra história
Para habitar aqui.

Entao, chove, chove, chove...

Até não sobrar nuvem,
Até o solo encharcar,
Até o sol raiar

E secar todo o excesso
E germinar vida da lama
e abrir os olhos de quem sonha.






sábado, 4 de abril de 2015

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Flor

Tão perto
que já não enxergava o branco,
a cegueira do excesso
dessa mente clara, racional.

As pétalas coloridas
de meu corpo
não conhecem a lógica
das combinações cromáticas socialmente aceitas.

Sinto as cores correrem em minhas veias.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Silencio

No mundo do Silencio
So se chega sosinho,
Trazendo na mala bastante vazio.

E' um mundo azul,
Onde posso me deitar,
Olhar para o ceu e observar...

A Chuva que molha a minha pele
Pele que se dilata para receber a agua
Agua que escorre prateada pela Lua
Lua que nua caminha no espaco
espaco vazio em que me acho.

Do Mundo do silencio
Volto em minha companhia,
Na mala posibilidades e Alegria.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Erro

No jogo dos espelhos, erros.
Nenhuma imagem é meu personagem.
Enquanto minto, rindo, assisto
Às fotografias...
Fontes da juventude,
Glórias de outrora,
Sonhos do futuro,
Ironia.
leio as primeiras páginas de minha história,
escuto minha trilha sonora,
Nenhuma memória me cria,
olho nu espelho, erro.





terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Encontro

Entre um jogo de tarô
e uma consulta ao horoscopo,
um lida no livro dos sonhos,
uma roupa nova,
um filme romantico,
um livro sobre o zen,
uma aula de ioga,
um choro desmedido,
um cochilo,
um sonho,
uma expectativa,
ou até mesmo na hora do almoço,
ou melhor, na hora do chocolate,
ou do café,
tento me encontrar.

É tanto esforço,
corro, corro, corro,
perco o folego
sem me alcançar.

Esquilo

Outro dia,
durante essa longa jornada,
me sentei abatida
em um banco na estrada.

Não tardou muito, um dos esquilos  que por alí estavam chegou,
subiu no meu colo e falou:

"O tédio, o cansaço e as horas que não passasm são tudo poluição".
"O descanso é tão importante quanto a ação".

Sorri e fiquei observando os esquilos que havia alí.

A praia I

Seduzida
pelo afagos
dos grãos de areia
enraízo.

Absorta
na violência
das ondas
escuto o gemido de cada pedra.

Respiro o mar...
Uma onda vem me beijar.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A noite e suas criaturas ( A noite no deserto)

No deserto da noite
escuto o silêncio das criaturas.
A monotonia de seus passos
é a certeza de sua presença.

Seus ruídos inaudíveis
ora se aproximam,
ora se afastam.

O medo é minha única companhia...

Num ato de coragem
abro os olhos.
No céu,
pontos luminosos de incerteza.

noite

A noite
cria
atura
os maus
pensamentos