quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Ao vinho

J'ai besoin de boire du vin
para esquecer as coisas vãs,
pour me concentrer dans la vérité,
para não te esquecer.

Un verre de vin, s'il vous plait!
j'ai besoin de pleurer
por não ti ter
para me aquecer.

Perdu au centre d'un carrefour,
je ne sais pas par où...
irei, serei, estarei, amarei
sem tu.

je m' oublie de moi même
je me suis endomi pour le vin.
sonho contigo, te encontro,
fujo, corro, sonho...

Fluxo

A magia de teu corpo nu,
azul,
em comunhão com céu,
me lembra o gosto do mel.

Enquanto a fogueira queima,
amarela, vermelha,
meus olhos quentes te consomem,
com fome.

Contrário aos efeitos da gravidade,
sinto meu corpo flutuar,
quando calmo, sem ansiedade,
de mim estás a se aproximar.

Nas veias, meus sangue corre em contrafluxo.
Na cabeça, um desejo absoluto.
Mas meu corpo trava,
não falo sequer palavras...

Perfumado, me ofereces um chá.
Sorvo cada gole sem te olhar.
Por um momento ou dois pensei que fosse acontecer,
toda a tensão se dissolver...

Como um animal selvagem agirias.
Para ti, me tomarias.
Lambuzados de mel, no céu,
no calor das chamas...Me chama!

Mas nossa eduação não é tão profana.
-Obrigada pelo chá!
- Adeus, até logo, Ana!
e educados estancamos os fluxos.

Un petit poème français ou je suis timide

J'ai besoin d'écrire
des mots inconnus
d'une langue perdue...

Ça sera mon discours...
Des choses que je veux te dire
et que je ne sais pas comment parler.

Je suis desolée, mon amour.
Je suis timide.
Je ne sais pais si je t'aime
moins ou plus...
Mas je te veux,  beaucoup.

je suis desolée, mon amour
Ceux sont mes sentiments
moins ou plus...

Je suis timide
j'ai écrit en français
je sais
Mas c'est pour toi
qui ne parle que portugais...

Calor

Era um calor da peste,
um sol quente danado,
resolvi tirar os sapatos.

O chão estava em brasas,
tirei as calças.
Parecia o inferno,
me livrei do terno.
Pelado corri pro banho,
liguei arcondicionado
e ventilador.
Nada aliviou.
tomei água, sorvete e até gelo
e no desespero
abri o gongelador.
Não adiantou.


Foi quando me conformei,
abri um vinho,
deitei no chão
e  esperei.

Submissa

Submissa,
a despeito dos movimentos feministas,
de todos os sutiãs queimados,
é assim que, meu amado,
eu me alisto a ti.

Obedeço teus comandos,
satisfaço teus desejos,
te alimento de prazer
nua
totalmente tua.

E viveremos assim, a amar
por toda a eternidade
que durar
360 longos minutos de pernoite de motel...

Como amantes dormiremos.
Desconhecidos acordaremos.

Não espero carinho, repeito, educação...
Recebo meu dinheiro,
chamo um taxi
e vou embora...
sem nem lavar o cabelo.

Adoeci

Adoeci
pela falta de reação,
pela ânsia,
pela asma,
pela trava
de meu corpo sem ação
frente a tua virilidade,
que afoga meu pulmão no ar
e o obriga a nadar.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Cantiga

Era uma canção antiga
que pintava minha pele
com sua melodia,
uma vez que eu não mais ouvia.

Não é que eu não ouvisse por motivo de doença,
pelo avançado das horas
ou por uma questão de crença.

Não ouvia por teimosia.
eram tantos os barulhos desse mundo
que queria escutar tudo,
mas tudo me confundia.

As (des) combinações fonéticas
se alojavam em meus ouvidos
dia e noite e dia
como um apito.

Já nem me lembro qual o som do silêncio...
Buzina, plástico, televisão, celular,carro ou simplesmente o vento?
Será o som de pés descalços andando
ou de menino trelando?

Não me recordo.
Foram e são tantos barulhos,
que não mais escuto.
 Ahh! Sinto falto do tempo em que havia o Silêncio...

Mas como dizia no início:
ainda há uma cantiga que me comove.
Meus ouvidos não a ouvem,
mas minha pele a absorve.

Fico toda colorida
(me sinto cheia de vida)
e perfumada
(pelos cheiros dos tons de tinta).

Fico tão distraída...
Esqueço até que estou surda.
mergulho na melodia,
cheia de cor como dia ,
e vou dançar com o Silêncio,
penso.









segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Soprinho de vento

Como de costume,
não sei se por vício,
melancolia
ou revolta contra os padrões sociais de beleza,
ou simplismente pelo sabor,
como um chocolate após o almoço.

Minha felicidade só não é maior do que a alteração do ponteiro da balança ao final do mês
e as inumeras promessas de uma alimentações saudável que faço.

Ai quanto arrependimento por um pouquinho de contentamento.
Um docinho para passar o tempo,
um soprinho de vento.

Invertido

Ando meio invertido,
dormindo acordado,
acordado dormindo.

Outro dia dormi vestido
no meio do dia,  da rua,
no meio.

Desperto sou sonolento,
confundo os pensamentos,
sou lento.

Tenho preguiça da vida,
me movo por obrigação,
sem ação.

Mas quando estou domindo,
viajo por outra dimensão,
faço até chover no sertão.

Vivo tanto que acordo cansado,
o corpo todo doído,
desanimado.

Envelheci

Em 13 de setembro do ano de 2012 segundo o calendário cristão, aos 30 anos, 3 meses e 22 dias, descobri:
Envelheci.
Não sou mais o mesmo, Se é que um dia fui.
É que velho, me recordo da infância, mas esqueço d'outras lembranças.
Não me recordo de ter sido "eu" ou "o mesmo".

Me recordo de um menininho que achava que tudo de bom era brincadeira, guloseima, bobagem e besteira.
O que aconteceu come ele não sei.
Era eu, eu mesmo, esqueci...errei?
- Ai culpa, apesar de velho ainda carrego-te comigo.
Afinal, sou velho ou adulto, ou os dois?
- Mal começo a divagar e já te apoias nos meus ombros. Estou velho, tu pesas!
- Quando foi que te conheci, culpa?
Será que foi quando desisti de ir viver na lua...
Ou foi quando aprendi que felicidade = alegria, que é tudo sinônimo de vitória...
e que o fracasso = tristeza e que isso é tudo derrota.

Quantos enganos,
por anos e anos...

Quando criança, eu tratava tristeza e alegria com a mesma simpatia.
Não era amargurado com os fracassos do passado, nem ansioso pelas glórias do futuro.
Naquela época eu não me enganava, vivia o presentre, aproveitava os dias e brincava.
Mas envelheci.
Meus ombros estão arriados.
Sinto o peso
das cobranças, da gravidade, dos pensamentos.
É o cansaço

que me pega pelos braços e me auxilia  a passar os dias.
sonolento, conformado, lento.
Já não acho graça em nada.
Rumino os erros do passado,
me culpo por ter fracassado
e sei que o futuro é uma grande piada...

Se alguem estiver me lendo,
pode pensar: "mas você só tem 30 anos!"
Engano.
Velhice não tem haver com idade,
tem haver com crença, ou melhor, descrença:

A criança acredita em tudo no mundo.
O adulto acredita no futuro.
O idoso acredita no passado.
E eu, velho, apenas desacredito.






Meus poemas

Meus poemas não são para declamar,
nem para amar,
nem para o mar
ou ar.

As palavras navegam
ao sabor dos ventos
soprados por meu pensamento.
A|tudo aceitam,
A nada negam.

São poemas azuis,
ora infantis,
ora senis.
Elocubrações de minha mente,
que podem te enganar,
mas para mim não mentem.

sábado, 1 de setembro de 2012

Lembro

Lembro quando
ontem de manhã
era capitão de um navio
e os piratas me obedeciam.

Nossa embarcação estava ancorada
 ao pé-de-acerola
do quintal de minha avó.

Nossa missão era simples:
cavar, cavar, cavar.
Até encontrar o tesouro,
besouro, lixo, pedra
ou o outro lado da terra.

Me recordo disso,
mas pouco do que veio depois.
Quantos mares naveguei?
Com quantos piratas já lidei?
Quantos tesouros encontrei?

Não sei.
Sei que vou navegando,
dia após dia,
ano após ano.

Sem terra por avistar,
ao meu redor apenas mar.
Nado para lembrar

As águas

As águas eram tranquilas,
rasas, transparentes,
nem precisava saber nadar.

Saboreou esse instante de tranquilidade,
levado pelas águas,
ficou a flutuar.

E flutuou por diversos mares,
cidades, ares...

Dançou valsa em Cingapura,
tomou caipirinha na Dinamarca,
fez churrasco no alaska,
jogou beisebol no Brasil.

Fez tudo isso de olhos fechados,
sonhou tanto que acordou cansado.

Uma vez chorou

Uma vez chorou
pela inveja que teve
das vidas alheias que cobiçou,
pelos sonhos que teve
e que jamais realizou.

Não era religioso,
tampouco viciado.
Para seu azar,
não tinha onde extravasar.

Era lúcido,
talvez um dos últimos.
Crítico,
debatia muito consigo.

Desligou o abaju,
levantou-se,
abriu a janela,
deixou a luz entrar.

E alí, através de suas lágrimas,
ficou a contemplar...
a claridade
com que a noite o despia.

Cru, sentiu-se exposto,
por sorte estava só,
não havia espelho,
não viu o seu rosto.

Chorou então
com todo o corpo.
se achava sujo de maus pensamentos.
Nunca se sentiu tão humano...

E essa humanidade o despertou.
Abriu os olhos ainda molhados,
num só fôlego se levantou.

Abriu a janela,
a noite era clara,
ficou a contemplar...

Sem inspiração

Fazer poesia sem inspiração
é como comer molho sem macarrão,
manteiga sem pão,
é fazer amor sem tesão.
Inspiração é massa
é o ingrediente primeiro,
o resto é tempero.
Um punhado de palavras,
transpiração,
suspiros e floreios.

Sempre no início

Sempre no início
porque a vida
é uma roda que gira
onde cada fim
é também um começo.

Os instantes se sucedem.
Olhos a abrir
e a fechar

No limiar
do que fui, serei ou estou sendo...

Vou vivendo

Sempre no início,
a ânsia do próximo ato,
a espera do próximo passo.
A urgência do fim
é a insurgência do novo

que já nasce velho,
com os dias contados,
num instante é passado.

E nesse círculo,
o que ainda não é, é nada...

O novo é nada, sempre.

É apenas uma potência,
expectativa em violência.
Velhos que morrem novos
e novos que nascem velhos.
Nesse círculo vou vivendo...

Sempre no início.



Tic-tac-Tic ou O tempo (início)


O tempo
do passo
do ponteiro
do relógio
do menino
que fui
flui

O tempo (inteiro)

O tempo
do passo
do ponteiro
do relógio
do menino
que fui
flui

É uma flecha
ora certeira
ora incerta
hora

Que passa
rápida
devagar
parada
sempre contrária

Ao meu desejo
ao meu sentimento
ao que quero fazer
do tempo.

Setembro

Foram
31 dias de tormento,
um mês inteiro de maus pensamentos,
incontáveis minutos de depressão.

Mês de Agosto só me traz desgosto.
Todas as ervas se tornam daninhas,
meu jardim vira capim...
Flores e frutos? estão podres ou  murchos.

Mas, para meu alento,
vão-se os ventos...
Reaparece o sol,
é chegado Setembro.

O ar que expiro não é mais furacão.
A água que transpiro não é mais maremoto.
A terra em que piso já não se treme.
Meu corpo não mais me teme.

Volto a ter calma.
Meu caminho se torna claro,
as flores surgem por onde passo.
Ando com leveza, é a certeza:

De que tudo passa,
principalmente o tempo.
E depois de Agosto
sempre vem Setembro.