terça-feira, 26 de março de 2013

Progresso

Era uma vez um poema urbano
que nasceu engarrafado
no meio do trânsito.
Carregado de ruídos,
cheirava à gasolina
e sua voz era uma buzina.
Nasceu fadado a provocar malefícios,
sob o signo do stress, do trânsito
e da queima do combustível.
Mas apesar do seu triste destino,
acreditaram, sem desatino,
que ele era moderno,
que rodava no caminho para o sucesso,
foi chamado de Progresso.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Meu rapaz

A claridade de teus conceitos morais te cega,
meu rapaz,
não te deixa ver o outro lado do verso.
toma esta taça de vinho tinto
do minto, do sinto, do instinto...
Quem sabe baco,em sua sabedoria,
te conduza ao anverso?
Só posso dizer que espero
Mais uma alma romper a forma alienante.
Meu rapaz,
o outro lado pode ser fascinante!
Imagina...
adorar a dúvida,
o banho de chuva,
as pessoas que se entregam,
os acontecimentos mais sinceros...
Ah! meu rapaz,
toma este vinho e te derrama
te deixa fluir
e ama, ama, ama...





Passageiros

passageiros...
eu,
os sonhos,
os amores,
os temores.
Num quarto de hotel,
espero o outro dia,
novamente,
sono,
melancolia.
Afasto as cortinas da ânsia,
sobra tristeza,
falta sabedoria.
Enxugo as ilusões,
abro a janela
e expiro as vãs sensações.
As luzes das casas estão acesas...
pequenas estrelas,
no universo dos lares,
iluminando
jantares,
amores,
temores,
passageiros...


Desejos

Queria te mandar uma poesia,
um beijo,
um abraço,
um bom dia...

Queria te dizer que sou tua,
inteira,
verdadeira,
nua...

Queria te ver novamente,
sorridente,
confiante,
amante...

Desejos não ditos,
escritos,
malditos,
intranquilos...

Desejos...
Inaudíveis,
na gritaria do dia,
Ensurdecedores,
no silêncio da noite...

quinta-feira, 14 de março de 2013

Pesadelo

Um grito
gutural,
grande
e agudíssimo,
grosseiro
e gravíssimo,
ressoou...longe...
onde, onde, onde?
ecoou, ou, ou, ou
não.
Foram meus pensamentos?
o vento?
a voz dos sentimentos?
a ânsia,
o drama,
a trama,
o enxame,
a chama,
a cama,
a lama,
o suspiro,
esqueço do umbigo
e me torno líquido
e aos poucos afundo
num mundo profundo,
escuro,
novamente durmo.


Passos de Bolero

A correria dos dias
é a sina de nosso tempo,
povoado de maus pensamentos
que apressados devoram
meus sentimentos,
tua paz,
nossa mocidade
e a lembrança daquela idade...
em que a cidade dançava
ao som de um bolero...
Em toda esquina era um encontro,
um sorriso, um lero-lero.

Não o barulho angustiante,
o grito, o agito,
o calor, o enxame,
o trânsito nauseante
de uma vida que não...

Para!

Me deixa ficar de bobeira
assistindo os passos apressados
daqueles que agoniados
não percebem a inutilidade
da ânsia
das gentes, das cidades...

Alienados!

Tiveram seus futuros roubados,
mas não, não se dão conta
de que a pompa,
o patrimônio, o dinheiro...
é tudo fachada do desespero.

E eu espero,
escuto,
venero
os dias que passam.
E eu espero,
danço,
venero,
meus passos são os do bolero.



terça-feira, 12 de março de 2013

A compra da poesia

- Quanto vale o metro quadrado de um minuto de poesia?
Pago pela poesia pronta,
já embutido no preço
o custo da inspiração.

- Obrigada, prezado Senhor.
Escute essa aqui, a seu dispor...
O acabamento é de um requinte contemporâneo,
foram utilizadas palavras de altíssimo conceito,
todos os versos, rimas, métricas  seguem os mais altos padrões
de poder, de ter ou de deixar de ser.

-E quanto me custará esse espaço de cultura para minha sofisticação?

-Foi de graça Senhor.
cultura não se compra
e poesia é tempo,
e o tempo já passou.

domingo, 10 de março de 2013

Recife & Olinda


Olho pela janela 
e vejo Olinda
minha cidade natal,
leve e linda.
De música e poesia
são feitas tuas ladeiras.
Entre histórias e melodias
cresceste de todas as maneiras.
Mas não perdeste o charme
com o avançar da idade
Tua tradição é mais contemporânea
do que os programas de televisão.
Só te conhece quem te vive e te sente
quem anda por tuas ladeiras
embebido de frevo
no calor, na chuva, na certeza
de que não tem maior alegria
do que teu carnaval cheio de fantasia.

Como uma tapioca
e assisto o sol se deitar
em Recife
a cidade alvoroçada
que também é a minha casa.
Se teus rios falassem...
contariam toda a mudança
porque passou tua paisagem
a cada idade uma nova cara,
uma nova imagem.
És minha província preferida
tens beleza e loucura
em cada canto, em cada ponte, em cada esquina.
Caminho nas areias de boa viagem
compro as fantasias no vuco-vuco da cidade,
depois peço a benção no morro de Casa Amarela
me despeço de ti, Recife, tão bela,
vou passar meu carnaval noutra cidade linda, chamada Olinda.

Existe uma alegria


Existe uma alegria
que só se encontra
na harmonia
de uma canção de samba,
da pessoa que ama,
daqueles que são íntimos,
dos amigos queridos,
de uma criança contente,
de quem se sente presente.
É uma alegria
que contagia
e afasta toda a tristeza 
da melodia.
é um som transparente,
é barulho, é ruído
de quem está contente
e dança
a dança
na cadência
dos braços
de um amigo, de um amante, de um amado
conhecido ou desconhecido
entre sorrisos 
e abraços.

Existe uma alegria
que só numa voz de samba
num canto de amor
se anuncia
e se faz presente.
faz sorrir minha alma
traz a paz
eu fico contente
e danço
a dança
na cadência de teus braços
meu amor, meu amado,
te conhecendo ou não,
sou só sorrisos
e abraços.

Vão

Vão
ficou meu peito
amarga
é a sensação.

Em vão
meus desejos
meus pensamentos
meus sorrisos
meu fingimento.

Vão
chegaste
te acomodaste
sorrimos
me conquistaste

Mas é em vão
os amores
e as amarguras
dos jogos de ilusão.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Ausência

Ele vem,
desperta meus sentidos
e vai

Nem olha para trás

Durmo pensando
no dito
no não dito

no indizível

Abro os olhos
e nada.
foi sonho?

Apenas indícios da noite passada.

Em minha pele ainda está seu cheiro,
na boca o gosto do beijo,
quando fecho olhos ainda te vejo.

Meu corpo inteiro é só desejo.

Relembro dos abraços,
do calor de teus braços,
do movimento,

dos eternos passageiros momentos.

Mas acordo só,
quero tua presença
e recebo apenas

ausência.

sábado, 2 de março de 2013

Esperança

À morte estás condenada.
Nascestes para ser defunta,
pois és infundada,
tua conclusões
não tem causas.

Doce palavra que aos sonhos embala
e coloca à deriva num mar de ilusão
passageiros, tripulantes e capitão.
Para tu não há salvação.

Chegas sorrateira, te instalas em meu peito,
faz de mim teu leito perfeito.
Me enches de verdades,
escuto confidente, acredito em tua sinceridade.

Cegas meus olhos,
enebria meus pensamentos,
confunde meus sentimentos,
me envolves no teu véu de Maya.

Te entrego o leme
e me perco
e me deixo vaguear
nessa névoa que é teu mar.

Até que um dia afunde na cegueira
ou desperte pelo sol da clareza...
Adeus Ardilosa!
és mentira, és nada,
à morte foste condenada!

sexta-feira, 1 de março de 2013

Transeuntes

Contemplo
a velocidade
dos traseuntes
que passam
nas calçadas.
vidas corridas,
semblantes sofridos,
rugas de preocupação,
ação, ação, ação.
O descanso,
a espera de fechar
o sinal de trânsito.
Continuo meu trajeto,
até chegar a minha vez,
desço da condução
e ação, ação, ação.

Do outro lado

-Do outro lado da janela
Ela.
-Do outro lado da parede
Ele.
-Escondida pela cortina,
sequer me atina.
-Atrás de uma pilha de livros,
nem sabe que existo.
- fecho o livro, dou um gole no vinho, e deixo os pensamentos me levar
vou até a janela, quem saber vê-la passar.
-Afasto a cortina, abro a janela, deixo a luz entrar.
Olho, e do outro lado ele a me olhar.
-Apesar da distância, da argamassa, do transito e do cimento,
o vento me traz seu perfume, seu olhar, seus pensamentos.
-Me cumprimenta, levanta uma taça, diz que veio me ver passar.
Sorrio, é hora de se encontrar.

Probabilidade

A lógica dos resultados exatos,
o dever de seguir os trâmites corretos,
as regras das teorias dominantes,
a imposição do que é certo
e os incontáveis manuais de intruções...

Foi criado numa caixa de boas maneiras,
lugar herméticamente calculado.
Saiu de lá absolutamente quadrado.

Não conseguia se acomodar em qualquer espaço.
Rígido, pontudo,
machucava todos e tudo.

Tornou-se matemático.
Mas não dos criativos,
e sim daqueles que só vêem problemas e só criam empecilhos.

só que um dia, por seus próprios passos,
tropeçou
e caiu num poço, numa poça, num riacho, num rio, num lago, num buraco...num mar, num ar, num azar...
de probabilidade,
que aparou suas arestas.

Tornou-se esfera,
ora flexível, ora fera.
De certeza, só tinha a dúvida.
Tomo cerveja ou como uva?
Redondo, chegava a ser cômico.
Como matemático,
um fiasco.
Mas, como músico,
criava melodias de números imaginários
e canções de ilógicos resultados,
que alegravam a todos e a tudo.
E assim, se acomodou no mundo.

Todo pé
tem seu chão.
Todo chão
tem seu botão.
Todo botão
tem sua flor.
Toda flor
tem seu amor.
Todo amor
tem seu pé.