quinta-feira, 26 de julho de 2012

Maremoto

Uma onda longa, que a espreita, sonda
e vem, experimenta e vai...
Te vejo suave, adeus, bye-bye
Mas lá longe, se ajunta, abunda,
uma onda densa, profunda.
Um gigante, que num levante,
de mar, de areia, de ar
violentamente para mim flui
e golpeia, martela, esfaqueia
a terra estremece, o céu se pertuba
e o meu mundo inteiro afunda.

Carnaval diário

E esse carnaval que não acaba...
Oito horas fantasiada, todo dia, me arrasa.

São tantas máscaras
que quando lavo o rosto
não encontro mais minha cara.

Nas ilusões do mundo,
me confundo.
Procuro acreditar que tudo
seja realmente útil.

Prisioneira,
transito entre compromissos,
obrigações, acordos, afazeres, reuniões,
sonho com um sumiço.

Mas quando chego em casa,
aaahhh, tiro a camisa de força.
Quem me vê pensa:
está louca.

Tomo banho nua,
livre das fantasias,
dou adeus ao longo dia.

E boas vindas a noite curta,
mas de alegria!

Chuva de pregos

Mil pregos chovendo
e eu, por não ser parede,
não sei como recebê-los.

A garganta seca,
tenho sede.
Os dentes doendo.
A força contida
O grito natimorto,
sofro
me liquefazendo.

E pelos poros
derramo um ódio mudo,
uma raiva calada
de quem silenciado
não pode fazer nada.

Respiro,
profundo
denso,
surdo para o mundo.

Sou água.
Os pregos caem.
Nada fica,
tudo passa.

Sem pregos

Hoje eu queria ser martelo
pra enfiar todos os pregos no concreto.
E deixá-los bem presos
para mais nunca cometerem maldades.

Sem pneus furados,
viajar livremente.
Sem pregos no chão e nos calçados,
derrepente andar descalço.
Sem medo de se ferir,
simplesmente sorrir.

Na estação

O grito
de Ivo
soou como apito
anunciando
que ia,
que estava de saída,
que não mais viria,
que tudo o que será
se tornou seria.

Imóvel fiquei,
nem a mão do adeus
levantei.

Fumaçando ele se foi.

E eu continuei,
esperei por outro trem
e nele embarquei.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

2 dígitos

O amor tem dois dígitos:
eu e você.
Até mesmo quando é dos outros:
dela e dela.
No singular ou plural:
nós e vocês.
não tem distinçaõ de sexo:
ele(a) e/ou ele(a).
e cabe múltiplos casais:
ele e elas,
nós e ele,
eles e vocês.
Ainda assim, tem dois dígitos:
se um é tampa
o outro é panela,
se um é metade
o outro é laranja.
É, não tem jeito.
O amor é soma
e o resultado é dois

Pé de coco

Do coqueiro
bebo a água fresca da inocência,
como a carne doce da imaturidade,
depois me deito a sua sombra
e tenho os sonhos verdes da mocidade.

Tristeza é Alegria

Tristeza é Alegria
com miopia
basta um óculos de riso
incontido
pra se vê e não esquecer

Que toda desgraça
tem sua graça.
E que a dor
se alivia com humor.

Ideologia da simplicidade

Da essência profunda
do âmago de alguns fundos
vieram as ideologias
que hoje governam o mundo.

Os desejos e sonhos caros.
A droga liberalizante do consumo.
O vício da frustração.
A hipocrisia do status.
A última tecnologia de alienação.

Numa longa aspiração....



Filme

Não passou de ficção.
Seguiu todos os passos,
superou os obstáculos,
como num filme de ação.

Foi bom aluno no colégio,
trabalhou,
comprou casa e casou.

assistiu jornal, futebol, novela, televisão.
tomou umas com os amigos,
envelheceu, mas criou os filhos.

só que um dia o filme acabou.
morto então ele pensou:
não foi bem a vida que queria.
Me faltou um pouco de poesia.

Sem Título

Poemas incomple
atos interrompidos
aquilo que não foi dito
ou escrito

os olhos já não enxergam
os ouvidos estão surdos
cansados adormeceram

a tinta, o papel, a respiração
uma mente vazia
sono ou meditação.

Zoom

Sentado a janela
observo as mãos
que seguram o jornal,
que levanta a xícara.

Tímido, recolho os olhos
do outro lado, me afasto.

A janela, o jardim, o portão, a rua, as casas, carros, gente, tráfego,
arranha-céus, inúmeras construções,
um rio que desemboca no mar...ah o mar!

Fecho a cortina.
Bom dia queria dizer.
Penso em você.
E dou um gole no café.

Blue

Eu não seria blue sem tu,
flocos de algodão doce
inacessíveis
supensos no ar...

Sobre eles, eu a caminhar.

E o calor, que em minha pele bate,
embranquece,
mas ela não te esquece.

Vem, seremos dois carneirinhos
cobertos de algodão
blue, eu e tu
nessa imensidão.

Da Queda do Mundo

Depois da queda,
só resta o riso.

Depois do mundo,
o umbigo.

Ao Riso do Umbigo

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Hai - Ca_.

Os embalados
versinhos estão prontos
para consumo.

Quem vai às compras
consome desilusões
pagando amor.

A contra adição
da liberdade é a
sua obrigação.

Sem inspiração,
Nem procuro solução.
É manteiga e pão.

Redondo o sorriso.
Várias ruguinhas em festa.
3/4 do humor.

Por um humor
laranja que abranda tudo,
refresca o mundo.