quarta-feira, 29 de maio de 2013

Saudade

Horas infinitamente lentas...
a vista cansa,
o ponteiro do relógio não anda,
o vento parado.
Amanhã, amanhã, amanhã,
sonho com a manhã
em que estarás ao meu lado.

Mas o tempo
não conhece a briza,
apenas a tormenta,
me concede minutos de felicidade
e infindáveis horas
de saudade.

Flor

Celebremos a vida,
os frutos cheios de amor,
um vasinho com uma flor

Abandono

Maldade maior
é arar a terra,
plantar sementes,
aguar todos os dias
de esperança, afeto, carinho,
assistir crescer
e desabrochar a flor...
para depois, abandonada
às intempéries do tempo,
vê-la murchar em dor.

Buquês de flores

Buquês de flores
são belos,
aquecem o coração,
despertam sentimentos

e vão.

Murcham rapidamente,
são frutos vazios,
sem raízes,
não geram sementes.

Buquês de flores
são o último suspiro do belo,
o enaltecimento da morte,
o rompimento de um elo.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

não você não

o longe
me contou
que estaria
perto
de ser
você

o ausente
me avisou
que estaria
presente
para ser
você

E você,
distante,
não apareceu.





Desencontro

Palavras
molhadas,
más
e ditas,
umas sublinhadas,
outras engolidas,
por traz daquele copo,
do gole, do líquido,
foram o que restou.
Secaram os diminutivos,
as trocas de carinho
as palavras melosas,
o universo em cor-de-rosa.
Se fez deserto a floresta.
E, na minha direção,
voaram feito flechas
as palavras
malditas,
cuspidas
no inexistente brinde
de nosso último desencontro.






Para murchar uma flor

Para murchar uma flor
basta desprezar o amor.
Não sinta pena ou dor,
apenas esqueça
qualquer gesto de afeto,
cuidado, carinho.
A flor, por maus tratos,
definhará.
Mas atenção, esteja ciente:
A flor pode não murchar pra sempre.
O tempo, o sol, a chuva, o vento
novos amores e sentimentos
podem fazê-la reanimar.
Só que não será mais a mesma,
é provável que nem lhe reconheça,
mais bela, mais forte
mais difícil de murchar.

Véu de Maya

Nem o véu de Maya
suportou o peso da chuva.
Foi tanta água...
Ensopada,
desprendi-me da capa
e fiquei nua...
na noite,
no frio,
na chuva.
À boca,
o gosto amargo
das verdades,
que, umedecidas,
fugiam de meus olhos.
Engoli
e novamente senti
o inquebrantável fio da esperança
a me envolver
me aquecer, me secar
e em minha pele tecer
uma nova cobertura.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Suspiro


Piro
ou quase.
Eu sus!
eu mais do que
piro.

Balão

Murchinha esperava...
um sopro de carinho,
o toque do teu beijinho,
o calor de teu paladar.

Enquanto esperava,
meu coração se pôs a inflar...
e eu a flutuar...
No ar, no mar, amar?
Suspirar

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Sorriso

Só, o riso.
A boca é um sol.
O rosto aquecido
e eu esquecido.
Do que? De quem?
Das coisas do vai-e-vem.
Ah! Você...
Você... você,
Que quero tão, bem!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O diário de Clara


O telefone tocou. Clara correu para atender. Poderia ser João ou os novos amigos, com os quais havia combinado de passar o restante das férias. Mentiram para os pais, na verdade viajariam sós, sem adultos. Para Clara era uma mentirinha boba.
Renata, mãe de clara, não gostava muito das novas amizades. Achava que a filha estava mudando de comportamento, que não respeitava mais os pais. Clara se sentia incompreendida. As brigas entre as duas eram constantes. O pai, Carlos era mais condescendente, aceitava as vontades da filha, dificilmente impunha restrições.
-Alô!
-Mudanças de planos princesa!
Era a voz de joão. O coração de Clara acelerou. Ele era o principal motivo para ela não querer viajar com os pais para a casa da montanha, como sempre fizeram. João era mais velho, quase de maior, um misto de príncipe e 'badboy'. Clara era a menina dele. E ele, o primeiro namorado dela. Os pais não sabiam. Renata jamais aprovaria que sua filhinha namorasse um homem de verdade, que raiva!
João lhe ensinava o que era sexo, desejo. A vida com ele era sempre festa. Clara tinha aprendido a beber, a amar e também a fumar. Renata, por duas vezes, socorreu a filha, que passou mal por excessos alcoólicos. Minha filha, não foi pra isso que te damos educação. Você não era assim, são seus amigos, estão lhe destruindo.
Clara mandava a mãe calar a boca. Ficavam sem se falar e depois agiam como se nada tivesse acontecido. Renata não encontrava apoio no marido, o qual achava que era coisas da idades, depois passa, não sabia mais o que fazer.
-Oi joão! Meus pais estão me esperando, já estão no carro, voltei apenas pra buscar um casaco, eles vão me deixar na estação. Lá nos encontramos...Que mudança?
-Consegui um carro emprestado, vou te buscar. Estamos pensando em fazer uma festa também. Diz aos velhos qualquer história e me espera aí, depois te explico. Beijo.
-beijo. E desligou.
Clara abriu a janela da sala e gritou aos pais mais uma mentira. Deu adeus e desejou boas férias, falou que ficaria sempre com o celular ligado para manterem contato.
Carlos ligou o carro e saiu. Renata, do banco do carona, ainda olhou para trás, o coração não mão. “Deus proteja minha filha”.
Clara então foi procurar o casaco, não estava no seu quarto. Foi ao quarto dos pais. Será que algum dos casacos de mãe fica bom em mim?. Enquanto remexia no guarda-roupa, uma caixa caiu no chão, abrindo-se. Dentro diversos cadernos envelhecidos. Abaixou-se pegou um deles, abriu-o no meio.

Vejo minha filha repetir os erros que cometi quando era jovem, espero que esteja enganada, não quero vê-la sofre. Se arrepender das escolhas feitas. Gostaria que ela não tivesse que passar pelo que passei para amadurecer, para compreender a vida...nem todos os amigos são verdadeiros, são bons.

Clara fechou no susto. Era um diário de sua mãe. Não poderia ler. Mas ela nunca iria ficar sabendo...Cadê joão que não chega? Espero que ele não apareça com aquelas amigas, detesto quando está junto delas. Que demora! Ah! Quer saber, vou ler. Dona Renata sempre tão certa!
E começou a ler. Na primeira página escrito no alto “Clara”. Leu sobre a gravidez de sua mãe, o que quanto havia sido desejada. Sobre a dificuldade que a mãe tivera para engravidar. Sobre a escolha de seu nome 'Clara'. Os primeiros anos de sua vida, a escola, os amiguinhos. Leu também sobre o amor do pai e da mãe, de como amavam aquela filha, única. De como desejavam a sua felicidade e também de como muitas vezes discordavam quando o assunto era sua educação...
Parou a leitura e ligou para joão, não aguentava mais esperar:
-Alô!
-Alô! É Clara, com quem eu falo?
-É Mari, sou amiga do joão.
-Ah! Posso falar com ele? Sou sua namorada.
-João, Mais uma namorada. Atende. Mari ria.
Do outro lado da linha, Clara ouvia o que Mari falava, a raiva aumentando.
-Oi! João desligava o chuveiro e se enrolava na toalha.
-Sou eu Clara. Cadê você? Que demora? Quem é essa Mari? Não conheço nenhuma Mari. Você está onde?
-Calma gatinha! Que brabeza é essa. É só uma amiga, vai viajar conosco. Ou melhor, mudamos os planos, vamos fazer uma festinha aí hoje e viajamos amanhã, certo? É limpeza? Estou terminando de me arrumar, espera aí, tranquilo!
- Ai joão, festa? Tá, tá certo. Mas tenho que deixar tudo em ordem para meus pais não perceberem. João? É só amiga mesmo?
-Beijo linda! Não se preocupe. Chego ai mais tarde com a galera, levamos as bebidas. Fique bonita para mim.
-Tá certo! Vou. Beijo.
João voltou ao banho, acompanhado de Mari e Clara ficou em casa, esperando. As lágrimas já desciam no rosto quando resolveu continuar a ler o diário. No fundo sabia que João a traía, sentia raiva dele, mas o amava, sentia-se culpada. Era jovem, não tinha um corpão, não tinha a mesma experiência que as outras amigas de joão. Tentava ser igual a elas, tentava agradá-lo, mas parecia que nunca conseguia ser boa o bastante. E agora mais essa! Outra festa. Abriu o diário, avançou as páginas, queria chegar até o momento atual, continuou a ler.

Sei que minha filha está envolvida com algum rapaz, percebo a mudança no seu corpo, nas suas atitudes. Mas vejo que não é algo bom, ela está sempre com raiva, brigando, não aceita o que dizemos. Cada dia o diálogo fica mais difícil. Às vezes escuto seu choro, fico atras da porta de seu quarto escutando. Tenho vontade de entrar, de lhe acalentar, de conversar com ela, de saber quem está lhe machucando...Clara se veste, se comporta como se quisesse parecer mais velha. Ela não se aceita. Como gostaria de estar do seu lado, de dizer 'minha filha, quando o amor é de verdade, ele aceita as pessoas como elas são, não é preciso deixar de ser quem é. Isso não é de verdade, isso é jogo, é diversão'. Me vejo em Clara, antecipo sua frustração, falsos amores juvenis. 'não é preciso deixa de ser quem é Clara, se ele gosta de você, vai gostar do jeito que você é'...

Clara chorava, no fundo concordava com as palavras de sua mãe. Aquela não era ela, bebia, fumava, aguentava aqueles amigos, tudo era para ficar perto dele, para conquistá-lo, para ser aceita. Continuou a ler.

Clara não quis viajar conosco. Vai ficar com esses novos amigos, creio que algum deles seja o tal namorado. Deixamos. Foram muitas brigas, discussões... Meu Deus já não sei como chegar em minha filha! Saímos de casa, ela ficou, alguém lhe telefonou, desistiu de nossa carona até a estação de trem.

Clara parou de ler assustada. Aquilo não poderia ser possível. Não poderia estar escrito. Tinha acabado de acontecer, sua mãe estava no carro, não tinha como escrever isso, ela não tinha retornado a casa. Ainda assustada e sem entender o que se passava continuou a ler, o diário estava perto do fim.

Foram 5 dias de angustia, ligamos para ela todos os dias, diversas vezes, nunca atendia. Até que resolvemos voltar, não via a hora de chegar. Arrependida de tê-la deixado ficar com esses novos amigos, sequer conheci os pais deles. Como pude! Devia ter sido mais rígida, não devia ter cedido.

Ainda na estrada, não vejo a hora de chegar, espero que esteja tudo bem com nossa pequena. Precisamos conversar.

Clara estava angustiada. Como podia ler algo que ainda não havia acontecido.? Nada disso podia ser real, estava dormindo? Não, estou acordada, isso realmente está acontecendo. Nervosa, continuou a ler.

O portão estava aberto, do jeito que deixamos, a janela também, aberta. Corri para casa, Carlos estava assustado. Quando entramos, uma bagunça, bebidas em todos os cantos, subi as escadas até o quarto de Clara...Encontrei minha filha já sem vida há alguns dias, o corpo fedia. Estava nua, ao seu lado manchas de vômito. Havia bebidas, cigarros e drogas espalhados no quarto. O laudo médico foi conclusivo, parada cardíaca. Overdose. Como todos os participantes da festa eram menores, ninguém foi preso. Nem João, o namorado, que confessou ter oferecido a droga a Clara.
...
Carlos se culpa até hoje, mais de 5 anos se passou. Nossa vida, se é que podemos chamar de vida, é marcada por nossa culpa. Abandonamos quem mais amamos.
...
Ainda continuo a sentir sua presença, a escutar sua voz, seus passos, não quero ir embora dessa casa. Carlos acha que faz mal ficarmos. São muitas lembranças.
...
Vamos nos mudar em breve, estou encaixotando as coisas. Não levarei os diários, não devo viver mais no passado. Espero ainda poder ser feliz, com Carlos, vamos tentar viver!

Clara parou de ler. Olhou ao redor, poeira, quase não havia móveis, a casa estava vazia. No chão uma caixa aberta com cadernos empoeirados. Os diários. Pegou um lápis que havia na caixa e escreveu no resto da última folha do caderno que tinha em mãos.

Te amo mãe, te amo pai, me perdoem por tê-los causado tanta dor, obrigada por tudo! Obrigada pela vida! Compreendo mãe... minha vida foram minhas escolhas. Adeus.