sexta-feira, 14 de junho de 2013

Dia

Anoiteci
Não percebi
Fui me acostumando a falta de luz
Tornei-me noite escura,
Nua, fria, sem estrelas e lua.

Abria os olhos e nao enxergava
Eu era um breu
Se andava, tropeçava
Se falava, gritava
Se ouvia, nada entendia.

Amanheci
Senti
Pelas frestas entravam cores fugidias
Me colorindo e esquentando
Anunciando o novo dia.

Desenterrei,
Abri os olhos e enxerguei
Eu era todo claridade
Iluminava e coloria
Em qualquer canto, em qualquer parte.

Na gaveta

Como abrir a gaveta a partir de dentro?
Esta' trancada,
Pelo visto não há ninguém na sala, na casa,
No escritório ou no sanatório.

E' dia, pelas frestas clareia a melodia...
N gaveta papeis (contas, telefones, anotações, rabiscos),
Lápis, caneta, uma calculadora, grampos, eu e poeira.

Há quanto tempo estou aqui?
Sem eira nem beira.
Preso perdido.
Fui esquecido?

Sento,
Pego um lápis, um papel
E começo a escrever meus inúteis pensamentos.


Apneia

Foi uma chuva tão forte...
Me levou todas as pedras,
Me lavou todos os cortes
E me deixou uma pneumonia...
Levada pela ventania...
Foi tanto Ar
Meu peito começou a inflar
E eu a flutuar
Até quase alcançar o sol,
Que muito afetuoso
Deu um sopro caloroso
E me devolveu ao lar...
Me enrolei no lençol
E continuei a sonhar.

Samba do sujeito

Sambava de mim,
Cantava de mim,
Ria de mim,
Carecia de mim....

Mas para seu tormento
Deixei de ser só mais um complemento
De suas ações.

Tornei-me sujeito, independente,
Comecei a cantar
Minha próprias canções.

Sambo (sem você)
Canto(sem você)
Rio(sem você)
Eu amo (sem você).

Balada da superação

Decidi...
Você não vai mais me da bola.
Não quero mais o seu carinho
Que tanto esperei
E você sempre me negou...

Estou bem...
Não ligo mais, nem levanto cartaz
Não fuço mais seu nome nas redes sociais.
Você! Já não precisa mais me bloquear,
Mandar dizer que não está,
que passe bem.

Decidi...
Você não vai mais me procurar,
Vai dizer que esta outra,
Sair com uma, beijar aquela, transar com todas.
Vai me dizer que eu so fui mais uma
E, na verdade, nunca gostou de mim.

Estou bem...
Pois sei que um dia partirás pro além.
Só torço pra que seja bem antes de mim.
Acompanharei o seu enterro,
Pra ter certeza de que não tem erro...
Levarei flores, me vestirei de preto,
Direi sorrindo a ti, querido...

Estou bem,
Melhor agora
Que me livrei de ti....

Balada do macho burguês

Às vezes em casa,
Fazendo nada,
Pensando nas duzentas amantes
Mal-amadas.

Contabilizo os corações
Rasgados, pisados,
Comidos, devorados.

Me sinto tão querido e amado,
Amargo, malvado, tarado?

Não sei...
Será que isso é amor?
Não sei.
Será que isso é horror?
Não sei.

Só sei que sou adulto, maduro,
Responsável,
Um cidadão civilizado.

Pago contas, impostos,
Tenho meu emprego
Casa, mulher e filhos no colégio
Carro, empregada...
Uma vidinha bem burguesa
Com cerveja,
Pelada junto com a rapaziada..
E supermercado no final de semana.

Tudo me parece tão bacana
Que agora eu vou vê um seriado na tv.

Balada da volta por cima

Sacaniei,
Conquistei sem nem mesmo querer,
So pelo puro prazer...
De ter
E depois jogar fora,
Ir embora
E desprezar...

Mas não te preocupes não,
Sem mim não vais ficar,
Nesse mundinho machista
Sei que vais reinar.

Não apele ó Flor,
Curta sua dor.
Eu já lhe contabilizei,
Agora outra esta na vez.

Eu sei.
Adeus, bye-bye,
Vou comprar roupas novas
E me reinventar...

Vou sair com outros caras,
Dançar, dar risadas e com sorte transar...
Acreditar noutras mentiras
E assim, novamente tornar-me feliz!



Balada da barba

Eu já acreditei em muitas barbas nessa vida...
Cerradas, falhadas, bem feitas, umas grandes, outras aparadas.
E hoje estou aqui,
Nem um bigode sobrou pra mim.

Peço uma cerveja com muito colarinho
Para sentir o toque de um leve bigodinho
E relembrar das noites de amor...

Do tempo em que tinha meu rosto arranhado
E meus ouvidos carregados
De mentiras de amor.

Agora, depois de mais um abandono,
A cerveja já secou meu pranto,
Vou ser feliz e viver...
Deixarei minha barba crescer!




De verde a podre

Na velocidade de uma lesma
Deu a volta por baixo
E conseguiu chegar ao local que estava
Com 20 anos de atraso.

Cansado do esforço,
Nem notou que não era mais moço.
Foi de verde a podre.
Perdeu o tempo de maduro,
Caiu do pé direto pro escuro.

Na velocidade de uma lesma
Afundou-se na terra,
Deu a volta por baixo
E chegou ao local em que estava
Com mais 20 anos de atraso.

Cansado do esforço,
Nem notou que sua semente não vingou.
E' que semente so' vinga onde tem amor.
Secou.
Morreu sem se transformar em flor.








sexta-feira, 7 de junho de 2013

Fim de espetáculo

Quebram-se os jarros
Morrem-se as flores

Enxugo minhas dores

E' chegado o fim da comedia
Por traz da cortina
So, o cenário, o palco
De mais  uma  tragédia

Ao bobo
Compete divertir o outro
Ao outro
Compete rir do bobo

Mas a luz se apaga
A cortina se cerra

Cacos e flores no lixo!

Nada se guarda
O bobo desperta

A cara esta limpa
A peca termina.