quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Fera

Sorrio...
a despeito dos perdões não dados,
dos amores não correspondidos,
da tristeza da espera,
da ilusão da ânsia,
do consolo da esperança,
de todas as dores sofridas.

E Choro...
cada lágrima que cai me alimenta
de água salgada, salobra...
Água que não é doce,
que não perdoa,
mas  me adormece.

E durmo
na claridade daquele que espera,
que sabe não ser fera
e que só um gesto de bondade
a de findar todo o feitiço
de quem não nasceu para o grito

Mas não, não há de ser tão fácil
de acabar todo o cansaço
de um coração vindo de guerra...
belo, mas áspero,
confuso de tanto ser fera

Mas há, há de chegar o amor
talvez com receio,
talvez com dor,
de passos firmes ou reticentes
na dúvida de se quem o recebe é fera ou gente.

Mas, se é verdadeiro, há de vingar...
sem vingança, sem dor,
só de amar,
porque sabe que por traz de toda fera
tem um coração a sua espera.


Adormeces

já estou fechando os olhos,
mas a vontade de escrever
e chorar
me é voraz.

Come meu estomago,
as tripas,
o âmago,
me entristece os sonhos.

E sonho...
nunca mais ser feliz,
nunca conseguir o que sempre quis.

Porque tudo é vão.
São vãs as lembranças,
é mundano o sonho.

Pestanejo,
esqueço
até
que sofri,
que sei que nesses sonhos não hei de ser feliz.

Choro...
o choro do desconsolo,
do desassossego,
do nunca mais te vejo,
do nunca te conheci.

Mas, apesar disso tudo, estou bem, estou feliz...
sem ti.

Na verdade nunca te amei.
o minimo foi o que te dei.
Sonhasses um sonho
que não te proporcionei.

Adormeces, minha linda.
Sabes...
que nunca estive
e nunca mais estarei.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Sigo sorrindo

Preciso de uma dose de tédio,
talvez de um grama de choro,
para espantar as drogas mundanas,
que enrolam meu consolo.

Preciso de uma noite sem fim,
da qual só restem os jasmins,
flertando loucos,
no nascer do sol que aquece a mim.

E que toda melancólia
e maus momentos,
de sóbrios do sol,
se tornem fragmentos.

E se desmanchem no ar...
Como é bom respirar
toda ausencia,
toda tua não mais presença.

Estou de volta a mim,
fato que estou sem ti.
mas aprendi... a ser só,
ser alguém, sem nós.

E de encontro em encontro vou vinvendo.
Cada dia, cada vez mais podendo
gerundiar e fazer loucouras
cada vez mais absolutas.

E sem lutas
me entrego ao destino...
por inteira,
sem hinos, nem desatinos...

Tento,
e cada vez mais, sigo sorrindo.

Ser poeta


Ser poeta é algo que não tem fim,
é choro,
é desabafo,
é uma linha,
um verso,
talvez nem mesmo um traço.

O poeta não consegue falar a dor,
que lhe acompanha,
sofre calado,
até o abismo é um marasmo.

sem asma,
sem insonia.
sem noite.
sem ansia.

só...
sofre,
engole,
e respira.

de tristeza vai dormir...
e deixa que a melancólia sem fim
bata
a sua porta,
que está aberta
e desperta
deixa
os sentimentos entrarem.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Escrevo

Escrevo
às vezes bem,
às vezes com medo
do erro
do acerto
do incerto
do mistério
do mundo novo que crio com os dedos
E como viverão tais criações?
Por quanto tempo existirão essas palavras?
Não penso
esqueço
tenho medo
do apego
do carinho
do chamego
do meu dengo
do meu nego
e nego
aos derrames sentimentais
a sede de confissões
ao uso de pontuações
a vontade de chorar
ante o desmascaramento das ilusões

Assim
escrevo
pra mim
um verdadeiro mentiroso
verdadeiro
que escreve
escondendo os medos

Sempre a mesma música

Sempre a mesma música
e a intervalos irregulares uma gota.
O tempo não anda,
mas os anos...correm.

Todos os dias um pouco do mesmo
gosto
sorvo...
o café
é amargo.

A noite é a mesma de ontem
e de amanhã.
Noite vã. 
mal dormida, mal sonhada, mal vivida.

Lamento pelo café amargo.
Sonhos com os anos passados.
Na boca o gosto do choro,
enquanto ouço...
a música, sempre a mesma.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Frevo

Frevo
Bebo
Desço
Subo
Pulo
surto
Euforia
Alegria
contagia
Milhões
Foliões
Juntos
Ladeiras
Vida
Mundo.

No carnaval do frevo
não há espaço pra preposições, conjuções,
elementos de ligação.
Frevo é ação!
É tudo por inteiro,
é cheio,
é puro,
é verbo, é substantivo,
é um abuso, absurdo!

Seca

A boca rachada
como o solo do açude.
A água salobra
desce gostosa à boca.

O cabelo é palha,
seco e quebradiço.
Das árvores só os galhos,
secos e quebradiços.

O corpo aproveita cada gota de suor,
salgado, amargo
como a vida do gado
que de fome tem morto o corpo.

Branco, vermelho e cinza
são as cores de quando me vejo no espelho.
Uma vida inteira agreste...
Branca, vermelha e cinza.

Seca é minha sina.

Na calçada do samba

Lembro da última dança,
do samba,
da calçada,
da moçada,
da cerveja,
da noite de sexta,
que beleza!
Suava,
dançava,
na cadência do passo,
no compasso do samba,
com todo o molejo,
sorriso e trejeito
de quem se sente bamba.
E dança, e canta, e chove
e morre toda a amargura
da vida que também sabe ser dura
debaixo da chuva
na calçada do samba.

Fotos de minha infância

Vejo as fotos de minha infância
e sinto saudade do sorriso que já não tenho.
Há alí índicios de melancolia?
Não vislumbro nem a sombra da ânsia...
Emq ue momento abandonei as linhas de minha mão?
A felicidade apenas aconteceria...
Tantas buscas em vão.
Mas já não sofro.
Não choro, nem lamento.
Esqueço os pensamentos,
observo meus indícios, absorto.

domingo, 25 de novembro de 2012

Ao amor

Creio nos amores transparentes,
na lealdade do abraço,
no carinho de teus braços
e nos beijos mais calientes.

Jogo o jogo da sinceridade,
não finjo, nem digo meias-verdades,
quando amo é por inteiro,
tudo em mim é verdadeiro.

Sofro muito por ser assim,
mas prefiro acreditar até o fim
que a vida tem  mais cor,
quanto mais houver amor.

Não o amor da conquista,
o amor capitalista,
que consome as  pessoas, inteiras,
como mercadorias em prateleiras.

Sim ao amor que existia
nos versos das antigas poesias
e que me enche de saudade
de viver um amor de verdade.









Mais uma dose

À noite me delicio no banquete da ilusão.
Tomo o vinho das promessas de amor, calor, sexo...sem pudor.
Prenúncio da ressaca de solidão.
Intercalo com água, para deixar fluir a conversa...
sem pressa.
Provo dos queijos,
beijo, beijo, beijo.
Nossos corpos são feitos um para o outro,
te escolho.
Vem, sou tua.
Aquecida de vinho, enebriada de querer,
nua.
....
Pela manhã desperto,
não estás mais tão perto.
Na mesa um bilhete e o café amargo das desilusões:
"Meu bem, foi só uma festa,
te cuidas, não me esperas".

Caso

Meu bem,
casa comigo?
Eu quero você.
Quando a gente se vê?
Na minha casa ou na sua...
Censura.
Corpos, ritmos, calor, amor?
Despedida, saudade, dor.

Mais uma noite de ilusões
despertas pelos corpos, tensões.
Uma noite  e nada mais.
Futuro, adeus! Já vais?
Depois do orgasmo só o vazio,
o frio.

Meu bem,
eu caso.
Mas sei que para você
é só mais uma noite,
é ocaso,
apenas mais um caso.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Vento

Tem gente que é como eu,
que precisa da estrada, da incerteza...
para se sentir inteira, em casa.
Vagando pelo mundo, mas dono da propria morada.

Me deslocando é que me encontro.
Meu corpo é onde pouso.
Tenho necessidade de movimento...
No turbilhão do mundo, encontro meu alento.

Navegar, viajar ou simplesmente andar.
e são tantas as andanças...
Os momentos em que mais me pertenço
são aqueles em que estou de mudança.

Nem sempre a rotina é a morada da estabilidade,
Nem sempre o lar é feito de cimento.
Meu lar está onde estou,
sou  vento.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Origami 3

Observo meu rosto envelhecer,
cada ruga,
uma dobradura.

Prova das histórias da vida do papel.
Que de liso foi sendo usado.
viver é dobrar.
É criar vincos na pele.

cada origami que construí
será assim:
parte de mim,
parte de ti,
sempre partes.

Porque não há inteiros.
Essa parcialidade é o que temos de mais complexo.
Pessoas se conhecem,
se dobram, formam elos.

Origami 2

Olho para um lado
e para o outro
sempre uma combinação,
possibilidades de ação.

Nunca enxergo o todo,
apenas  partes
de um complexo
sistema de múltiplos elos.

E essa parcialidade
é o que tenho de mais completo
Dependo sempre de você
para formarmos os elos.

Nos dobramos
um pelo outro
juntos nos construímos
e formamos o todo.



Origami 1

A cada ruga em minha pele,
uma dobra no papel.
Relacionamentos, possibilidades.
Dobras, alteridades.

Uma dobra traz em si suas possibilidades,
há sempre duas partes.
Nos olhos do outro tento me enxergar inteiro...
sou eu, o outro, o entre ou eu mesmo?

Não, não há resposta correta
As combinações são sempre incertas.
Mas o papel que se dobra
se transforma...

Mesmo quando se desdobra,
o vinco da dobradura permanece...
passa a fazer parte da sua história
não desaparece...





segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Um chá

Um chá
com aroma de mar
para eu respirar
seu ar
beber suas vagas
lembrar de amar

Um chá
quente,
que na boca vem deixar
o gosto
das recordações
férias de verões


Conhecer, ser

Espero que dure essa tranquilidade...
que não se vá com o passar do tempo, o avançar da idade...
que tenha definitivamente expulsado a ânsia,
que esta fique apenas na lembrança.

A sensação de ser exatamente quem se é.
O conhecimento de que os medos são rarefeitos.
Tudo é uma questão de imaginação.
Viver é ação.

Na quietude dessa certeza,
de see eu, eu mesma,
quem acorda, adormece, boceja...
olho-me no espelho, falo para a outra:
"Veja"

Somos um e tantos quanto quisermos
vivemos o que acreditamos...
Existem tantas realidades quanto as que imaginamos.

Consciência

Creio que estou chegando lá,
no mesmo lugar
que estou,
mas de um jeito diferente,
me sinto mais consciente.

Tantas conversas plantaram uma semente.
Parei de mentir, para mim.
Assumo o que se passa em minha mente.

Concentro-me em minha própria vida.
Aprecio meus dias
com alegria.

E os maus pensamentos?
Às vezes vêm,
mas com um sopro
expiro-os de meu corpo
e lá se vão
soprados pelo vento.

Dormi

Dormi.
Não resisti.
A despeito do café,
da sobremesa,
da reunião,
do  barulho do trânsito
e da televisão.

Dormi.
Um sono sem preocupação,
de quem não tem hora pra acordar,
de quem só quer sonhar
e não precisa trabalhar.

Dormi.
Numa tarde de sexta-feira,
no meio do expediente,
uma grande besteira.

Dormi.
E menti.
Para todos estava doente,
havia passado mal com o almoço,
pense no sufoco.

Acordei.
estava tudo escuro,
era noite com certeza,
tentei levantar, mas desisti,
me enrolei no lençol e
Dormi.


domingo, 21 de outubro de 2012

Enquanto o vento bate em minha janela

Enquanto o vento bate em minha janela
e sussura palavras doces para eu acordar,
Permanceço.
Durmo.
Os olhos fechados,
cansados.
Não há vento, sol, chuva
ou promessa de felicidade,
que possa me acordar.

Não é que desisti...
No momento não me interesso em ser feliz.
Mal tenho forças para escrever...
Quiçá, levantar e viver.

Só, me resta dormir...
Esperar, talvez sonhar.

Ode ao presente

Quero o discurso da felicidade,
usado para iludir a todas as idades.
A certeza de que tudo dará certo,
esconderijo da obrigação de ser esperto.

Quero juntar todas as palavras de esperança
e dizer-lhes bem alto:
-Vocês não enganam sequer crianças!

Depois do final feliz é o nada.
A história sempre acaba.
A morada da felicidade é o futuro.
E o futuro é sempre nada.

É aquilo que não é.
É o ausente.
Por que viver em busca do que não está presente?
Quem espera pelo futuro
passa a vida no escuro.

Porque a vida é presente,
é tudo aquilo que não está ausente,
é o que você sente.

Não caminhe para as trevas da felicidade.
Não navegue no mar de esperanças,
para não afundar no poço de ansiedade.

Abra os olhos e veja.
Está claro.
Seja dia, seja noite,
sente.
Vive bem quem vive o presente!

Vagas

Vagas

Os pés enterrados na areia
A cabeça nas nuvens
O corpo a flutuar
nas ondas do mar...
Pral á
e pra cá
vaguear...
Só enxergo azul
Meu corpo úmido e quente

ritmado pelo mar
vagueio
pra lá
e pra cá.

Queria ser uma sereia

Queria ser uma sereia
para com meu canto te atrair
ou a estrela mais brilhante
para que enxergasses só a mim.

Mas não, não sou estrela,
sereia, pavão ou princesa.

Não sei jogar.
Não sou dama, peão, dado.
Não entendo os jogos
de sedução ou de azar.

Perdi as aulas de
convenções sociais
procurando tesouros no jardim.
Confesso-te
sou assim.

Portanto, não sejas tão território, meu amado!
Pois sou amadora,
uma péssima navegadora...
Sei que não te conquistarei,
bem antes, num mar de vergonha , afundarei.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Equilibrista

Em cima da corda,
um passo de cada vez.
Tremo, balanço,
canso, mas não descanso.
 Insensatez, eu sei.
Uma vida de equilibrista...
Por favor, me assista!
 Mas não, não há plateia,
nem contrarregra
ou regra...
 eu só...
balanço.
E o vento
E a chuva
E o temperamento
e os meus pensamentos...
canso.
Equilibrista, continuo,
não descanso.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Ao vinho

J'ai besoin de boire du vin
para esquecer as coisas vãs,
pour me concentrer dans la vérité,
para não te esquecer.

Un verre de vin, s'il vous plait!
j'ai besoin de pleurer
por não ti ter
para me aquecer.

Perdu au centre d'un carrefour,
je ne sais pas par où...
irei, serei, estarei, amarei
sem tu.

je m' oublie de moi même
je me suis endomi pour le vin.
sonho contigo, te encontro,
fujo, corro, sonho...

Fluxo

A magia de teu corpo nu,
azul,
em comunhão com céu,
me lembra o gosto do mel.

Enquanto a fogueira queima,
amarela, vermelha,
meus olhos quentes te consomem,
com fome.

Contrário aos efeitos da gravidade,
sinto meu corpo flutuar,
quando calmo, sem ansiedade,
de mim estás a se aproximar.

Nas veias, meus sangue corre em contrafluxo.
Na cabeça, um desejo absoluto.
Mas meu corpo trava,
não falo sequer palavras...

Perfumado, me ofereces um chá.
Sorvo cada gole sem te olhar.
Por um momento ou dois pensei que fosse acontecer,
toda a tensão se dissolver...

Como um animal selvagem agirias.
Para ti, me tomarias.
Lambuzados de mel, no céu,
no calor das chamas...Me chama!

Mas nossa eduação não é tão profana.
-Obrigada pelo chá!
- Adeus, até logo, Ana!
e educados estancamos os fluxos.

Un petit poème français ou je suis timide

J'ai besoin d'écrire
des mots inconnus
d'une langue perdue...

Ça sera mon discours...
Des choses que je veux te dire
et que je ne sais pas comment parler.

Je suis desolée, mon amour.
Je suis timide.
Je ne sais pais si je t'aime
moins ou plus...
Mas je te veux,  beaucoup.

je suis desolée, mon amour
Ceux sont mes sentiments
moins ou plus...

Je suis timide
j'ai écrit en français
je sais
Mas c'est pour toi
qui ne parle que portugais...

Calor

Era um calor da peste,
um sol quente danado,
resolvi tirar os sapatos.

O chão estava em brasas,
tirei as calças.
Parecia o inferno,
me livrei do terno.
Pelado corri pro banho,
liguei arcondicionado
e ventilador.
Nada aliviou.
tomei água, sorvete e até gelo
e no desespero
abri o gongelador.
Não adiantou.


Foi quando me conformei,
abri um vinho,
deitei no chão
e  esperei.

Submissa

Submissa,
a despeito dos movimentos feministas,
de todos os sutiãs queimados,
é assim que, meu amado,
eu me alisto a ti.

Obedeço teus comandos,
satisfaço teus desejos,
te alimento de prazer
nua
totalmente tua.

E viveremos assim, a amar
por toda a eternidade
que durar
360 longos minutos de pernoite de motel...

Como amantes dormiremos.
Desconhecidos acordaremos.

Não espero carinho, repeito, educação...
Recebo meu dinheiro,
chamo um taxi
e vou embora...
sem nem lavar o cabelo.

Adoeci

Adoeci
pela falta de reação,
pela ânsia,
pela asma,
pela trava
de meu corpo sem ação
frente a tua virilidade,
que afoga meu pulmão no ar
e o obriga a nadar.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Cantiga

Era uma canção antiga
que pintava minha pele
com sua melodia,
uma vez que eu não mais ouvia.

Não é que eu não ouvisse por motivo de doença,
pelo avançado das horas
ou por uma questão de crença.

Não ouvia por teimosia.
eram tantos os barulhos desse mundo
que queria escutar tudo,
mas tudo me confundia.

As (des) combinações fonéticas
se alojavam em meus ouvidos
dia e noite e dia
como um apito.

Já nem me lembro qual o som do silêncio...
Buzina, plástico, televisão, celular,carro ou simplesmente o vento?
Será o som de pés descalços andando
ou de menino trelando?

Não me recordo.
Foram e são tantos barulhos,
que não mais escuto.
 Ahh! Sinto falto do tempo em que havia o Silêncio...

Mas como dizia no início:
ainda há uma cantiga que me comove.
Meus ouvidos não a ouvem,
mas minha pele a absorve.

Fico toda colorida
(me sinto cheia de vida)
e perfumada
(pelos cheiros dos tons de tinta).

Fico tão distraída...
Esqueço até que estou surda.
mergulho na melodia,
cheia de cor como dia ,
e vou dançar com o Silêncio,
penso.









segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Soprinho de vento

Como de costume,
não sei se por vício,
melancolia
ou revolta contra os padrões sociais de beleza,
ou simplismente pelo sabor,
como um chocolate após o almoço.

Minha felicidade só não é maior do que a alteração do ponteiro da balança ao final do mês
e as inumeras promessas de uma alimentações saudável que faço.

Ai quanto arrependimento por um pouquinho de contentamento.
Um docinho para passar o tempo,
um soprinho de vento.

Invertido

Ando meio invertido,
dormindo acordado,
acordado dormindo.

Outro dia dormi vestido
no meio do dia,  da rua,
no meio.

Desperto sou sonolento,
confundo os pensamentos,
sou lento.

Tenho preguiça da vida,
me movo por obrigação,
sem ação.

Mas quando estou domindo,
viajo por outra dimensão,
faço até chover no sertão.

Vivo tanto que acordo cansado,
o corpo todo doído,
desanimado.

Envelheci

Em 13 de setembro do ano de 2012 segundo o calendário cristão, aos 30 anos, 3 meses e 22 dias, descobri:
Envelheci.
Não sou mais o mesmo, Se é que um dia fui.
É que velho, me recordo da infância, mas esqueço d'outras lembranças.
Não me recordo de ter sido "eu" ou "o mesmo".

Me recordo de um menininho que achava que tudo de bom era brincadeira, guloseima, bobagem e besteira.
O que aconteceu come ele não sei.
Era eu, eu mesmo, esqueci...errei?
- Ai culpa, apesar de velho ainda carrego-te comigo.
Afinal, sou velho ou adulto, ou os dois?
- Mal começo a divagar e já te apoias nos meus ombros. Estou velho, tu pesas!
- Quando foi que te conheci, culpa?
Será que foi quando desisti de ir viver na lua...
Ou foi quando aprendi que felicidade = alegria, que é tudo sinônimo de vitória...
e que o fracasso = tristeza e que isso é tudo derrota.

Quantos enganos,
por anos e anos...

Quando criança, eu tratava tristeza e alegria com a mesma simpatia.
Não era amargurado com os fracassos do passado, nem ansioso pelas glórias do futuro.
Naquela época eu não me enganava, vivia o presentre, aproveitava os dias e brincava.
Mas envelheci.
Meus ombros estão arriados.
Sinto o peso
das cobranças, da gravidade, dos pensamentos.
É o cansaço

que me pega pelos braços e me auxilia  a passar os dias.
sonolento, conformado, lento.
Já não acho graça em nada.
Rumino os erros do passado,
me culpo por ter fracassado
e sei que o futuro é uma grande piada...

Se alguem estiver me lendo,
pode pensar: "mas você só tem 30 anos!"
Engano.
Velhice não tem haver com idade,
tem haver com crença, ou melhor, descrença:

A criança acredita em tudo no mundo.
O adulto acredita no futuro.
O idoso acredita no passado.
E eu, velho, apenas desacredito.






Meus poemas

Meus poemas não são para declamar,
nem para amar,
nem para o mar
ou ar.

As palavras navegam
ao sabor dos ventos
soprados por meu pensamento.
A|tudo aceitam,
A nada negam.

São poemas azuis,
ora infantis,
ora senis.
Elocubrações de minha mente,
que podem te enganar,
mas para mim não mentem.

sábado, 1 de setembro de 2012

Lembro

Lembro quando
ontem de manhã
era capitão de um navio
e os piratas me obedeciam.

Nossa embarcação estava ancorada
 ao pé-de-acerola
do quintal de minha avó.

Nossa missão era simples:
cavar, cavar, cavar.
Até encontrar o tesouro,
besouro, lixo, pedra
ou o outro lado da terra.

Me recordo disso,
mas pouco do que veio depois.
Quantos mares naveguei?
Com quantos piratas já lidei?
Quantos tesouros encontrei?

Não sei.
Sei que vou navegando,
dia após dia,
ano após ano.

Sem terra por avistar,
ao meu redor apenas mar.
Nado para lembrar

As águas

As águas eram tranquilas,
rasas, transparentes,
nem precisava saber nadar.

Saboreou esse instante de tranquilidade,
levado pelas águas,
ficou a flutuar.

E flutuou por diversos mares,
cidades, ares...

Dançou valsa em Cingapura,
tomou caipirinha na Dinamarca,
fez churrasco no alaska,
jogou beisebol no Brasil.

Fez tudo isso de olhos fechados,
sonhou tanto que acordou cansado.

Uma vez chorou

Uma vez chorou
pela inveja que teve
das vidas alheias que cobiçou,
pelos sonhos que teve
e que jamais realizou.

Não era religioso,
tampouco viciado.
Para seu azar,
não tinha onde extravasar.

Era lúcido,
talvez um dos últimos.
Crítico,
debatia muito consigo.

Desligou o abaju,
levantou-se,
abriu a janela,
deixou a luz entrar.

E alí, através de suas lágrimas,
ficou a contemplar...
a claridade
com que a noite o despia.

Cru, sentiu-se exposto,
por sorte estava só,
não havia espelho,
não viu o seu rosto.

Chorou então
com todo o corpo.
se achava sujo de maus pensamentos.
Nunca se sentiu tão humano...

E essa humanidade o despertou.
Abriu os olhos ainda molhados,
num só fôlego se levantou.

Abriu a janela,
a noite era clara,
ficou a contemplar...

Sem inspiração

Fazer poesia sem inspiração
é como comer molho sem macarrão,
manteiga sem pão,
é fazer amor sem tesão.
Inspiração é massa
é o ingrediente primeiro,
o resto é tempero.
Um punhado de palavras,
transpiração,
suspiros e floreios.

Sempre no início

Sempre no início
porque a vida
é uma roda que gira
onde cada fim
é também um começo.

Os instantes se sucedem.
Olhos a abrir
e a fechar

No limiar
do que fui, serei ou estou sendo...

Vou vivendo

Sempre no início,
a ânsia do próximo ato,
a espera do próximo passo.
A urgência do fim
é a insurgência do novo

que já nasce velho,
com os dias contados,
num instante é passado.

E nesse círculo,
o que ainda não é, é nada...

O novo é nada, sempre.

É apenas uma potência,
expectativa em violência.
Velhos que morrem novos
e novos que nascem velhos.
Nesse círculo vou vivendo...

Sempre no início.



Tic-tac-Tic ou O tempo (início)


O tempo
do passo
do ponteiro
do relógio
do menino
que fui
flui

O tempo (inteiro)

O tempo
do passo
do ponteiro
do relógio
do menino
que fui
flui

É uma flecha
ora certeira
ora incerta
hora

Que passa
rápida
devagar
parada
sempre contrária

Ao meu desejo
ao meu sentimento
ao que quero fazer
do tempo.

Setembro

Foram
31 dias de tormento,
um mês inteiro de maus pensamentos,
incontáveis minutos de depressão.

Mês de Agosto só me traz desgosto.
Todas as ervas se tornam daninhas,
meu jardim vira capim...
Flores e frutos? estão podres ou  murchos.

Mas, para meu alento,
vão-se os ventos...
Reaparece o sol,
é chegado Setembro.

O ar que expiro não é mais furacão.
A água que transpiro não é mais maremoto.
A terra em que piso já não se treme.
Meu corpo não mais me teme.

Volto a ter calma.
Meu caminho se torna claro,
as flores surgem por onde passo.
Ando com leveza, é a certeza:

De que tudo passa,
principalmente o tempo.
E depois de Agosto
sempre vem Setembro.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Mediano ou poema da sobremesa

Quanta felicidade existe num pedaço de bolo
de chocolate,
doce, que doce, que bate!

Ai como queria ser um bicho de extremos!
viveria extremamente
guloso, amoroso, prazeroso, delicioso...

Seria todo superlativo,
cresceria grandemente
em todos os sentidos...
vertical, horizontal, lateral, frontal, ...

iria me expandir
de tanto sabor, amor, odor ou dor
até explodir e ir, alí, acolá,
quem sabe ser ou deixar?

Mas como sou mediano,
vivo todos esses anos,
contando nos dedos,
cheio de medos,
buscando felicidade,
com vergonha da idade,
preocupado com o peso,
sem saber se sou amado ou desprezado
e andando sempre calçado.




Aconteceu numa festa

Sentou-se à mesa
tirou da bolsa o pequeno espelho
e se viu.

A maquiagem não estava borrada,
o cabelo estava arrumado.
estava bonita,
perfumada, bem vestida.

Andar, olhares,
sorrisos, "oi tudo bom?"
Abraços, acenos,
conversas, fingimentos.

Tantas gentes,
conversas, egos, moralismos, educação
futilidades...
amor? sexo ou dinheiro?

Era preciso muita bebida
pra navegar naquele mar de ilusão.
Mas a festa continuava...
Música alta, ela alta.

Pessoas se movimentavam,
dançavam? flertavam?
já não distinguia...
pessoas felizes, todas atrizes.

E ela lá, sem estar...
se desfazendo,
ao tentar se encaixar.

Sentou-se à mesa
tirou da bolsa o pequeno espelho
e se viu

endurecendo,
perdendo os movimentos,
uma linda boneca
de pensamentos de ventos

Assustada, se levantou,
olhou ao redor,
"um mar de brinquedos"
tentou fugir, correr, mas tropeçou.

Caiu, asfixiava...
ninguém notava.
Foi assim que aconteceu...

Deitada no chão,
tirou da bolsa o espelho
e o quebrou.

com os cacos cortou
o plástico da embalagem.
Sem cascas então respirou.

levantou-se,
seguiu viagem
para trás jamais olhou.







Doce inveja

Invejo os que andam de mãos dadas,
que tocam confidencias ao pé-do-ouvido,
que compartilham as mesmas fotos,
que se compreendem no sorriso.

Por que para mim é tão difícil?
Me parece até impossível,
que um dia seja amada
de um amor correspondido.

Queria me livrar dessa solidão,
ou conseguir assumí-la com gratidão.
Ser feliz sem ou comigo,
dá ao meu mundo um pouco de brilho.

Mas me sinto tão fosca...
Me escondo no cotidiano
pra despistar a tristeza,
que, dentro de mim, ri de minhas besteiras.

"Menina, deixe de tanta amargura,
abra um sorriso e leve a vida com doçura"


Próximos capítulos

Tal qual livro a espera de um leitor
estou eu a espera de um amor.
Aguardo para ser lida.
Pelos teus olhos, minha história ganhar mais vida.
Sou cheia de páginas escritas, eu sei.
Mas sou eu,
é meu passado...
Espero tua chegada,
para os novos capítulos,
continuação de minha jornada.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Passatempo

Perdi de virada,
tudo indicava o contrário,
menos o relógio.
É, o fim só termina quando acaba.

Comemorei de véspera
achei que tudo tinha dado certo,
não aguentei a espera.

espalhei aos quatro ventos,
"consegui"
conquistei tudo o que quiz

só que parou de ventar
e o ponteiro do relógio de funcionar.
O destino assim teve mais tempo...

Reorganizou as jogadas
e fez da minha vida uma piada.
Para ele, era só diversão,
para mim , ficou a lição:

Passa tempo,
a vida não é jogo,
não se perde ou se ganha,
apenas se vive e se passa.


Ninguém mais o viu

como era de costume,
entrou na casa e abriu a janela.
Não ventava,
tampouco ouviu algum ruído.
Estranhou, acabava de vir da rua,
do trabalho, do trânsito e de repente:
onde estão os carros?
olhou pela janela aberta, mas não os viu.
Ao contrário, tudo estava deserto,
não tinha gente, carro, plantas ou prédios.
Só o nada.
Devo estar sonhando,
esfregou os olhos,
estou acordado.
Atordoado
foi até a cozinha
tomou um copo d'água, respirou.
Voltou à janela,
voltou à cozinha,
sentou, levantou,
assustado, chorou.

Chorou por tudo o que não havia mais fora,
pelo medo que sentia de abrir a porta,
pela certeza daquela realidade,
por sua falta de coragem.

Limpo então decidiu,
pela janela saiu,
ninguém mais o viu.



Versinho pro Amor

Amor é cor,
são os tons intermediários
da paleta do pintor.
è uma mistura, uma cor nova
que nasceu e tem vida própria.
É entre.
Não sou eu, nem é você
é o que acontece entre a gente.

Vício

Com um horror,
avassalador,
apressado, abro
portas e armários,
viro garrafas e sacos,
reviro o carro
de cabeça pra baixo,
paro,
acendo um cigarro.
esqueço.
o que era memo que procurava?
algo que me faltava,
eu sei.
Com um horror
avassalador
paressado, abro
portas e armários...

vista cansada

Há tantas coisas
e a vista cansada,
perdida no vazio que me cerca
sem enxergar nada.
Um minuto,
olhos de raposa fixos
em algo qualquer
insignificante.
E o barulho
me diz que existe um mundo
(que rotineiramente inventamos)
mas os olhos exaustos
já não me deixam criar.

Damas da noite

A pior coisa que tem é perder uma idéia.
Normalmente elas se aproximam quando estou prestes a dormir.
Só que nesse momento, de cansada, me engano fácil,
perco pra mim,
digo:
amanhã quando acordar vou me lembrar.
Ilusão.
Damas da noite não aparecem de dia.
E quando chega a noite já não são mais as mesmas,
são outras,
mas, amador, cometo os mesmos erros.
Não as escrevo, digo "vou lembrar",
adormeço e esqueço.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Voa Juquinha

Voa Juquinha, pois você está livre.
Voa-voa, à tona, à toa.
Usa tuas asas e ganha essa imensidão
Decola, larga esse chão
meu passarinho,
menininho
que ficou velhinho
sem ser.

Vai cantar noutras árvores
e ser feliz.
Se não fosses aqui, quem sabe alí?
Entre palhaços e bruxas, bolinhas e carrinhos,
é assim que vou lembrar de ti.

Deixa nessa terra teu corpo
e as lembranças amargas, sofridas
que pela tua carne foram engolidas
e que pelo tempo serão apagadas.

Estás livre
de todas as marcas.
Acabaram-se tuas dívidas.
Bate essas asas.

Quero te ver misturado no céu
verde, azul, branco, rosa, laranja, vermelho, amarelo...
Serás todas as cores.
Sempre teremos um elo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Verde

às vezes me lambuzo
uso e abuso
de ser assim, verídico...
autêntico sou desagradável?

Não que eu queira.
É que não estão prontos pra meu humor,
levam minhas ironias sempre com rancor.

Piscinas infantis são rasas,
Cerre seus olhos e abra as asas.

Inspiro antipatia neste porto.
Vagueio livre, sem ancoras.
Não finjo abraços e sorrisos,
nem reclamo das lembranças.

Agora sobrevôo esse jardim de gente,
sou um beija-flor...
Mas levo tapas, confundido com mosquito,
me defendo, pico.

Dou um salto e monto no cavalo
e saio por aí, alí, aqui, acolá, lá
Quer vir comigo cavalgar?

Seremos páticos ou anti ou sim ou a, sei lá.
Que importa? Viveremos sem portas,
rindo de nós e de tudo.
Seremos dois verdes se lambuzando no mundo.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Aceite

Na ponta de seu nariz
nasceu uma flor
era uma rosa laranja
cheia de espinhos,
mas que tinha uma leve fragancia

ninguem entendeu
mas foi assim que sucedeu:
acordou, sentiu um leve aroma e ardor

mal abriu os olhos e notou:
lá estava a flor

Por que eu? Por que flor?
Por que rosa? Por que laranaja?

Apesar de tudo, de todos
nada adiantou.
teve que se acostumar,
para sempre viveu com a flor.

Me faltam sementes

Olho para estas flores
e vejo que estão mortos
todos os meus amores.
Não têm odor,
mastigo uma pétala,
não têm sabor.
secaram pelo sol
ou foi a falta d'água que matou?
Ninguém mais sente
e só eu sei
que me faltam sementes
pra cultivar novas flores.

bem-te-vi

Bom é ser
alegre assim
como o bem-te-vi.

Acordar cedo,
nem se olhar no espelho
e sair beijando tudo o que é flor
sem preconceito de cor, aroma ou sabor.

Mas não sou assim tão amável,
o espelho me é implacável.

Não tenho flores, tampouco jardim,
mal-me-vejo, quiça a ti?


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

À noite, em casa

À noite, em casa,
sou em potência realizações.
Mas só o nada
acompanha minhas ações

quero agir, ler, comer,
escutar, falar,beber.
usar qualquer sentido.
sentir que ainda estou vivo.

Mais nada. É o que consigo.
Me dominam as negações.
Sinto um grande cansaço.
Sem forças, me faltam braços

Sei que o tédio já está presente.
Caminho para a melancolia.
É o que dá não ocupar ações.
Aparecem logo as frustrações.

Me invadem os maus pensamentos
(que moravam embaixo do tapete).
Olho ao redor,
enxergo apenas paredes.

Ligo a televisão,
luzes, barulho,
nada escuto, ou vejo.
tédio, tristeza, falta de concentração.

Penso em ligar para alguém,
quem?
só, sem ação,
solidão.

Choro reprimido

Queria chorar, mas não consegui.
Fui racional demais, eu sei.
Não havia motivos, mas tentei.

A culpa é da educação que recebi.
É crime chorar sem ter motivo?
Pode ser caracterizado como puro egoísmo?

Chorar é minha saída.
É quando, desnuda da armadura,
lavo minhas feridas.

É o momento em que mais nada importa,
somente minha história.
O que sou, ou fui, serei ou não.
Tudo o que para mim é real ou ilusão.

Tentei, mas não consegui.
Não me deixei lavar.
Presa aos moralismos da mente,
desisti de chorar.

Abaju

A luz do abaju
amarela meus medos,
como um clarão que atravessa os pesadelos.

Sei que não voarei pela janela
(posso dormir com ela aberta)
não perderei meu travesseiro,
nem serei sugada pelo espelho.

Durmo tranquila,
contudo me confundo,
acho que é dia
e acordo para o mundo.

Reconheço o engano,
desligo o abaju
e continuo sonhando.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Maremoto

Uma onda longa, que a espreita, sonda
e vem, experimenta e vai...
Te vejo suave, adeus, bye-bye
Mas lá longe, se ajunta, abunda,
uma onda densa, profunda.
Um gigante, que num levante,
de mar, de areia, de ar
violentamente para mim flui
e golpeia, martela, esfaqueia
a terra estremece, o céu se pertuba
e o meu mundo inteiro afunda.

Carnaval diário

E esse carnaval que não acaba...
Oito horas fantasiada, todo dia, me arrasa.

São tantas máscaras
que quando lavo o rosto
não encontro mais minha cara.

Nas ilusões do mundo,
me confundo.
Procuro acreditar que tudo
seja realmente útil.

Prisioneira,
transito entre compromissos,
obrigações, acordos, afazeres, reuniões,
sonho com um sumiço.

Mas quando chego em casa,
aaahhh, tiro a camisa de força.
Quem me vê pensa:
está louca.

Tomo banho nua,
livre das fantasias,
dou adeus ao longo dia.

E boas vindas a noite curta,
mas de alegria!

Chuva de pregos

Mil pregos chovendo
e eu, por não ser parede,
não sei como recebê-los.

A garganta seca,
tenho sede.
Os dentes doendo.
A força contida
O grito natimorto,
sofro
me liquefazendo.

E pelos poros
derramo um ódio mudo,
uma raiva calada
de quem silenciado
não pode fazer nada.

Respiro,
profundo
denso,
surdo para o mundo.

Sou água.
Os pregos caem.
Nada fica,
tudo passa.

Sem pregos

Hoje eu queria ser martelo
pra enfiar todos os pregos no concreto.
E deixá-los bem presos
para mais nunca cometerem maldades.

Sem pneus furados,
viajar livremente.
Sem pregos no chão e nos calçados,
derrepente andar descalço.
Sem medo de se ferir,
simplesmente sorrir.

Na estação

O grito
de Ivo
soou como apito
anunciando
que ia,
que estava de saída,
que não mais viria,
que tudo o que será
se tornou seria.

Imóvel fiquei,
nem a mão do adeus
levantei.

Fumaçando ele se foi.

E eu continuei,
esperei por outro trem
e nele embarquei.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

2 dígitos

O amor tem dois dígitos:
eu e você.
Até mesmo quando é dos outros:
dela e dela.
No singular ou plural:
nós e vocês.
não tem distinçaõ de sexo:
ele(a) e/ou ele(a).
e cabe múltiplos casais:
ele e elas,
nós e ele,
eles e vocês.
Ainda assim, tem dois dígitos:
se um é tampa
o outro é panela,
se um é metade
o outro é laranja.
É, não tem jeito.
O amor é soma
e o resultado é dois

Pé de coco

Do coqueiro
bebo a água fresca da inocência,
como a carne doce da imaturidade,
depois me deito a sua sombra
e tenho os sonhos verdes da mocidade.

Tristeza é Alegria

Tristeza é Alegria
com miopia
basta um óculos de riso
incontido
pra se vê e não esquecer

Que toda desgraça
tem sua graça.
E que a dor
se alivia com humor.

Ideologia da simplicidade

Da essência profunda
do âmago de alguns fundos
vieram as ideologias
que hoje governam o mundo.

Os desejos e sonhos caros.
A droga liberalizante do consumo.
O vício da frustração.
A hipocrisia do status.
A última tecnologia de alienação.

Numa longa aspiração....



Filme

Não passou de ficção.
Seguiu todos os passos,
superou os obstáculos,
como num filme de ação.

Foi bom aluno no colégio,
trabalhou,
comprou casa e casou.

assistiu jornal, futebol, novela, televisão.
tomou umas com os amigos,
envelheceu, mas criou os filhos.

só que um dia o filme acabou.
morto então ele pensou:
não foi bem a vida que queria.
Me faltou um pouco de poesia.

Sem Título

Poemas incomple
atos interrompidos
aquilo que não foi dito
ou escrito

os olhos já não enxergam
os ouvidos estão surdos
cansados adormeceram

a tinta, o papel, a respiração
uma mente vazia
sono ou meditação.

Zoom

Sentado a janela
observo as mãos
que seguram o jornal,
que levanta a xícara.

Tímido, recolho os olhos
do outro lado, me afasto.

A janela, o jardim, o portão, a rua, as casas, carros, gente, tráfego,
arranha-céus, inúmeras construções,
um rio que desemboca no mar...ah o mar!

Fecho a cortina.
Bom dia queria dizer.
Penso em você.
E dou um gole no café.

Blue

Eu não seria blue sem tu,
flocos de algodão doce
inacessíveis
supensos no ar...

Sobre eles, eu a caminhar.

E o calor, que em minha pele bate,
embranquece,
mas ela não te esquece.

Vem, seremos dois carneirinhos
cobertos de algodão
blue, eu e tu
nessa imensidão.

Da Queda do Mundo

Depois da queda,
só resta o riso.

Depois do mundo,
o umbigo.

Ao Riso do Umbigo

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Hai - Ca_.

Os embalados
versinhos estão prontos
para consumo.

Quem vai às compras
consome desilusões
pagando amor.

A contra adição
da liberdade é a
sua obrigação.

Sem inspiração,
Nem procuro solução.
É manteiga e pão.

Redondo o sorriso.
Várias ruguinhas em festa.
3/4 do humor.

Por um humor
laranja que abranda tudo,
refresca o mundo.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A Narciso

Foi em um dia qualquer que aconteceu.
Me pintava diante do espelho
quando refleti:
talvez aquela não fosse eu.

Coberta de códigos
fui me despindo.
Das alegorias do mundo
me despedindo.

Nua, mirei meu reflexo,
pensava encontrar minha essência.
Mas tantas semelhanças
eram meras aparências.

E aquela aparência
me enebriava.
Quem era ela?
Não era eu , ou era?

Sem coragem para fugir, fiquei alí.
Petrifiquei.
Quanto mais refleti,
menos me enxerguei.

No nevoeiro da mente, me perdia.
Do reflexo, uma luz fugidia
me guiava,
mas também cegava.

Anoiteceu.
Procurei em vão me encontrar.
Tateei meu corpo, a pele, a carne, a sombra,
nada estava lá.

Vagueei  noites sem fim.
Vazio,
era apenas  um cristal frio.
Até que, num clarão, te vi.

Claro e vivo, bem perto, olhavas para mim.
Sorrias,
sorri.
Foi então que compreendi:

Já fui outra
e muitos.
Hoje sou vários e um
reflexo de ti.












Brindo

Brindo
a uma vida inútil,
sem metas ou objetivos,
que não sirva de exemplo,
que a ninguém seja útil!

Brindo
às voltas que dou em torno de meu umbigo,
aos momentos perdidos
aos encontros e desencontros
que tenho comigo!

Brindo
e digo adeus
à busca da felicidade,
à vaidade do ser ou ter
à  morte e à saudade!

Brindo
a essa vida presente,
que em meu peito bate,
na qual tudo pode fazer parte
e também estar ausente!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Quero ouvir os chefs da língua me dizerem
que não posso misturar macarrão com cebola
e servir chamando de sopa.

Da seca que não vi

Urubucevando essa paisagem agreste,
superexposta, sem-contraste,dura,
sob o sol de meio-dia, um calor da peste,
vejo ao longe, a se aproximar...
A sede para me lembrar
do gosto salobroso da última água que bebi.

Não há remédio, medicamento é continuar...

Sedento, paro na próxima som...
que de tão incerta não consegue ser inteira.
sem eira, me sento à beira
da fugidia escuridão.

Estou cansado.
O suor me alivia, mas é salgado.
Escuto a fome, penso nos futuros passos...

Ando, ronco, respiro, vejo, água, corro,vôo

Na poça de ilusões, morri afogado
e, pelas aves de rapina, fui levado.

domingo, 10 de junho de 2012

Varal

                                 
Leve                a alma
azul                a roupa
lilás                  a casa
da água             limpa
lava              e acalma

Das lembranças esquecidas

Coloquei as lembranças ao sol.
Estavam todas mofadas, empoeiradas.
Eram lembranças esquecidas,
que estavam numa gaveta,
há muito tempo guardadas.

O sol então clareou
minhas recordações
sem distinção,
me mostrou tudo
num raio, num clarão.

Rapidamente,
coloquei meus óculos escuros.
É que o brilho das memórias
me ofuscava,
cegava.

Sem pensar duas vezes,
atordoado que estava
guardei de novo as lembranças
na gaveta em que estavam trancadas.

Inundação

Água   cidade   construção   pedra   construção   cidade   águaágu
águaágua cidade construção pedra construção cidade águaáguaág
águaáguaáade construção pedra construção cidáguaáguaáguaágu
águaáguaáguaágua construção pedra construção águaáguaáguaá
águaáguaáguaáguaáguatrução pedra conságuaáguaáguaáguaágua
águaáguaáguaáguaáguaáguaáguaedráguaáguaáguaáguaáguaáguaá
águaáguaáguaáguaáguaáguaáguaáguaáguaáguaáguaáguaáguaágua

Água, ilha, água

A ilha não é intransitiva
porque pede um complemento,
a água.

Novo

A obrigação do novo
é o castigo da contemporaneidade.
Faz passar mais areia pelo orifíco da ampulheta,
causa insatisfação crônica
e confunde Bem com  Progresso

Crescer?

Crescer, crescer, crescer...pra onde?
Quero apenas ocupar o mesmo espaço.
Passar os dias oservando a vida
aqui,
sentado.

Prolixo

Sejamos prolixos!
Tenhamos uma vida cheia de adjetivos!

Digo Adeus às frases curtas.
Eu quero é entrelinhas,
paragrafos loooooongos,
capítulos complexos,
e muitas, mas muitas reticências...

Não quero o discurso publicitário,
ou  jornalístico,
automatizados, prostituídos.

Quero o discurso poético,
ou lírico,
orgânicos, não corrompidos.

Que meus dias sejam contos.
Que minhas semanas sejam capítulos.
E minha vida uam coletânia.

Preencher lacunas?

Por que viver em busca de...?
Daquilo que não...

Quem busca o ausente, só encontra o vazio.
Realça a condição do Não
e da presença da Ausência.


Melhor é viver,
assim mesmo,
sem complementos

Viver é intrasitivo.

Solução pra tristeza

Solução pra tristeza
é lágrima,
que rega.
E, tal como a chuva que finda a seca,
faz do galho morto
nascer um broto
de flor, de fruto,
de ilusão ou alegria.

Protesto

Não à poesia difícil,
de forma petrificada,
enjaulada,
refém do cimento e argamassa.

Não à vida comedida,
de liberdades calculadas,
de espaços limitados,
entre muros e paredes

Sim a toda combinação orgânica,
às diversas possibilidades,
ao que está fora dos planos,
a qualquer improviso.

Eu quero é verso livre!
E que a água,
ao passar por aqui,
lave e leve todas as pedras.

Em fim

Em fim nos tornamos amigas. Não me deixas dormir, mas me ajudas a criar.

Quando chegastes, confesso, não gostei. Fingi que não te vi e me virei.

Cochilei. Me despertaste. E desse disparate começou nosso embate.

E assim foi.

Até que, cansada da batalha, cedi, obedeci, te aceitei .

 Vem Insônia, senta-te ao meu lado, toma essa xicara de chá e me ajudas a pensar.

Protesto

Abaixo às ultrapassadas inovações,
à nova embalagem do conservador,
aos novos designs do tradicional!
Nesse mundo de moda,
fuga e atroz,

regido pela tríade: consumo, mudança e progresso,
eu quero é freio!

O bom e novo velho de novo!

Insônia

Se não fosse a poesia,
seria o ansiolítico
o rémedio necessário
pra ordenar
a essa mente bagunçada.

Eu fico aqui

Contrário
ao (ilusório) crescimento econômico do país
de uns
ao (ultrapassado) desenvolvimento de novas tecnologias
supérfluas
e aos (autoritários) ditames do progresso
malévolo,
eu fico aqui.
Sentado,
esperando,
remoendo
os mesmos pensamentos
do futuro e de antigamente.

Liberd...

- Eu quero a liberdade de não fazer nada,
de não ter que inovar,
de não evoluir, crescer, desenvolver,
de não "olhar pro futuro",
de não progredir.

- Eu quero a palavra Liberdade,
cansei de viver de migalhas.
Me deixa sair dessa gaiola!

- Cala-te! ou te tiro a palavra!

-  liberd...


Protesto

Chega de progresso!
Chega de crescimento econômico!
Abaixo a pós-modernidade!
Quero mais é estar na moda da coleção passada,
dirigir um carro que dure vinte anos,
ter amigos pra vida inteira
e amores que durem mil anos!

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Despedida

Tomei
minha derradeira taça
de Melancolia.

Brindei
ao gole final
das Desilusões.

Fumei
o último cigarro
de minhas Angustias

Me levantei.
Caminhei para a noite,
abri as asas
e voei.

O que é o amor?

É entrelinha
É tom intermediário
É olhar impronunciável
É sorriso fora de hora
É motivo
É ação
E razão de ser.

É o que o dicionário descreve,
mas não consegue explicar.
É o que o médico não prescreve,
mas deveria receitar.

Amor de jardim de Amor

Bem-te-vi
assim que me olhaste.
Sorri.
Beijaste uma flor
e, como prova de amor,
a mim entregaste.

Naquele momento
brotou um sentimento,
que com muito zelo
regamos e adubamos,
dia-após-dia, ano-após-ano...
tanto em ti quanto em mim.

Cotidianamente assistimos
florescer nosso jardim.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Carol

Carolina acordava todos os dias com aquele resquício do sono que ainda faltou ser dormido. Mas não se queixava. Desligava o despertador e se levantava.
Ainda entre sonhos que teimavam em continuar arrastava-se para o banheiro. Água, banho, café, roupa, café, notícias na TV, maquiagem, escova de dentes, chave, sapato, “eita o desodorante”, elevador, bom dia, constrangimento, espelho, carro, transito....trabalho.
Afogada na rotina, os dias passavam. E a noite era tão curta...Ou lia, ou assistia um filme, ou estudava, ou corria, ou arrumava a casa, ou...ou. “Tenho que dormir, amanhã acordo cedo”. Tantos “ous”, tantas escolhas e tão pouco tempo – pensava.
Foi  num dia qualquer, entre uma e outra escolha, checando o e-mail, olhando o vazio pela janela e escutando o noticiário da TV que Carolina parou de calçar o tênis e chorou.
Foi um choro inconsciente, da solidão escondida, do ar sufocante e da velocidade a que se sentia submetida.
Carolina tinha amigos, tinha família e todos gostavam dela. Achavam ela uma garota bem-sucedida, independente, inteligente, bonita. Uma mulher forte, de fibra, por isso mesmo não lhe chamavam Carol. Não tinha apelido, era apenas Carolina.
Chorou e não calçou mais o sapato. Ligou pra família e disse que era frágil. Falou pela primeira vez de tudo o que sentia, que também sofria, que estava cansada e que esse mundo de obrigações e correria mata. Falou para a mãe que queria cafuné, que queria deitar e não ficar de pé, que se sentia só, às vezes perdida, que de tantas “coisas” para fazer sumia.
A mãe lhe escutou e pela primeira vez lhe chamou de Carol. Conversaram como duas amigas  e Carol se sentiu muito querida.
Dormiu no chão, na sala, pensando em todos aqueles a quem amava, em todas as coisas de que gostava.  Acordou com a claridade do sol e fez o mesmo de sempre, só que com uma diferença...aproveitou cada momento, cada de repente.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Amargo

Mais um dia,
tudo igual,
desigual,
melancolia.

Acordo,
Trabalho,
como,
Autômato.

Dentro do café
Fumegante
Uma lágrima cai,
Adoçante.

Luar

Toda noite,
da janela,
do quadrado,
vejo ela
e recebo
encabulado
uma luz tonta,
que a meu quarto
arredonda.

Sabor

Mastiguei.
Ai como era doce...
Engoli.
digeri.
Mas continuei a sentir
o sabor das palavras que ouvi.

De uma vida sem entonação

Vivia
sem emoção,
em vão,
sem amor,
era só razão.

Vivia
de monocromia,
de monotonia,
sem louvor
ou desilusão.

Morreu
sem contraste,
num desastre,
sem dor,
não foi interjeição.

Coceira

Acordei com uma coceira.
Achei que fosse alergia
ou até mesmo sujeira.
Mas não, era uma lembrança.
Dessas que deviam estar esquecidas,
que só causam ansias
e teimam em não ficar adormecidas.

Erosão

dá peRda
dá pedRa
dá pé...daR

domingo, 13 de maio de 2012

Limpeza

Preciso limpar a casa.
Pintar as paredes,
espanar a poeira,
arrumar armários e gavetas
jogar fora o lixo,
lavar o chão.

Eliminar todas as marcas
des pessoas passadas.
Varrer os resquícios
de amores perdidos.
Apagar o rastro
de uma antiga solidão.

Vassoura,detergente, pano
rodo, coragem, razão.
Tenho tudo,
só me falta  água,
para terminar a faxina
de meu coração.