segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Poesia Contemporânea

Para  ser considerado
um poeta contemporâneo
de autoridade reconhecida

é preciso agradar a gregos e troianos.

Escrever coisas cotidianas,
fotografias da janela do ônibus,
paisagens do interior...

Ou ser de linguagem hermeneuticamente hermetica,
originar enlaces que nem os entendidos
entenderão.

Ora, não me enquadro
em nenhum desses quadros
quadrados.

Escrevo mesmo é pra mim
egoisticamente pra mim
e repito rima sim

uso clichê, falo de meus sentimentos
supiro, minto, apago, rabisco
junto o que eu quiser com o que eu quiser

Até cansar e dormir.


Segunda-feira

Toda melancolia
será bem vinda
para que escreva
outra rima

sem nexo
na solidão
no tédio
do sono

atrasado
pelo cansaço
de uma vã
segunda-feira

não há comida na geladeira
uma garrada de cerveja
felicidade é tão passageira


Um poema de amor

Te dou esse poema
pequenino e sem tema
apenas para que guardes
de recordação de quem por ti
sentiu afeto e admiração.

Caso não se recorde de mim
considere saudosismo um saco
não queria juntar coisas inúteis
ou ver esse papel amarelar
recomendo ler e descartar.

Não precisa ler devagar
refletir ou interpretar
aqui não há entrelinhas
é só ler e amassar.

Como se amassa
extrato de banco
panfleto de sinal de transito
e poemas de amor não correspondido.

As estações

Outro dia cheguei
a nevar de tão fria que...
deixa para lá.

Não aconteceu flor
apesar de todo o amor
a semente secou.

escrevi a lápis
no papel amarelo
folhas de desejos.

No calor de minhas
angustias, fiz nascer teu
melhor sorriso.


Eu poeta

Inalcançável,
me retiro para o deserto
ou para meu quarto
e espero

O passar das horas
dias, meses e anos,
apenas para ter certeza
da minha natureza

errante,
anacoreta,
um livro, um pedaço de papel
um lápis ou uma caneta.



Festa

chorei
uma taça inteira de champanhe
acompanhada de canapés de soluços

Mentira, 
não sou adepta ao drama
prefiro comédia romântica

Brindei
ao nosso namoro, noivado e casamento
que aconteceram nos meus pensamentos

Comi 
sonhos, bem-casados e amores-perfeitos
me empanturrei de desejos

rodopiei
ao som do teu bolero
espero, espero, espero...

Enebriada 
pelo vinho da ilusão
fui acordada pelo chão.


Devaneio

Uma lágrima contida
Um caminho só de ida
Uma vontade infinita

Palavras não ditas

A flor que não desabrocha
O rio que não deságua
A água que não fura a rocha

Mal-ditas

O vinho que não aquece
o toque que não acontece
o pensamento que se perde

Devaneio...









quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Do concreto ao Abstrato

Era uma vez concreto
em forma de prédio
reto,
ereto,
e$perto,
que desmoronou
no asfalto,
num ato,
totalmente abstrato.

Apartamento

Apertamento
aprisionada em 25m²
num terreno fantasiado
no alto.

Aperta
minha gaiola
de telas de plástico
equilibrada
no alto.

Apt
canto
nu
alto.

Asfalto

Asfalto
A-fas-to
As...falto
As flores passam

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

outra paisagem

Ando pela minha cidade
a procura de uma paisagem
que não seja de passagem.

um lugar onde o único movimento
é o do vento
que passa...

um cenário em que o tempo
pare,
me pare.

Olho pela janela,
observo outros lares
em busca dessa tal paisagem
ao som dos motores da cidade.




Dobraduras (origami)

...Me dobrei em azul,
tentei em vão alcançar o nu.

Vesti uma saia laranja
pensei alcançá-lo pela dança.

Nada deu certo,
até me pintei de amarelo.

Experimentei inclusive o vermelho,
mas sem muito esmero.

verde, branco, rosa, preto, lilás...
qualquer cor, tanto-faz.

Decidi então me dobrar pelo avesso,
encontrei todas as cores num corpo inteiro.










Que de tão esticado se rompe

Elástico  que estica
o dedo que estica
a mão que estica
o corpo que estica
o tempo que estica
o espaço que estica
o rosa de tua pele que estica
o elástico

Origami 4

Observo meu rosto envelhecer,
cada ruga, uma nova dobradura.

Prova das histórias de vida de um papel,
Que de liso foi sendo dobrado.

Viver é dobrar.
É criar vincos na pele.

Cada origami que construí será assim:
uma mistura de tempos.

E também uma parte.
Parte de mim, parte de ti, parte...

E essa parcialidade é o que temos de mais complexo

Cada dobra é um elo.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Clarice

Clarice acordou                              

Tempestade,                                  
Exércitos em guerra...                    
No jardim, o som..
..tambores.                 
No peito, temores.                        

Mas Clarice é flor.
Flor não se pedra,
Dança a música da terra.

Claridade
afugenta tempestades.
No jardim, o som..
..tambores.                   
No peito, amores.      










quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Agora é dia

Eu, que nunca acreditei em felicidade,
outro dia me peguei rindo a toa...
apesar do barulho da cidade.

Não sei se foi quando estiquei as pernas,
fechei os olhos
ou notei que respirava.
De repente tudo se fez dia,
de sorriso eu transbordava.

Foi a primeira vez que enxerguei sem medo
do erro, da dúvida, do verso...
ou do meu anverso.

Será isso que chamam de felicidade?
Ou apenas um avançar da idade...
Só sei que em minha casa agora é dia.
Abro portas e janelas,
todo vento que passa é de alegria.


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

VRIKSHÁSANA

Repouso minha cabeça em teus ombros de madeira.
Me cubro com teu manto de folhas envelhecidas.
Respiro teu aroma de tantas vidas
e desperto aqui
na Terra prometida.

Longe
onde,
idas e vindas,
finda
o pensamento.

Meus pés penetram o solo,
me moldo ao vento,
recebo a benção das águas...
Sou todo espaço
e não mais tempo.

Tinto soneto

Uma nevoa espessa
me impede de sair de casa
Abro a porta,
só vejo o nada.

Tomo um gole de vinho
tinto
e não sinto
o frio

Da nevoa espessa
que me espreita
e me espera...por eras

só uma gota de vinho
tinto
e sinto...

domingo, 5 de janeiro de 2014

Escolha

Incomodo
uma ânsia no estomago
dor de cabeça
fadiga
gula
tristeza

Insônia
o corpo pesa 
a cabeça desperta
os dentes rangem
me viro 
e viro e viro

E vem o sol
e vem a lua
e vem a chuva
e vem a rua
e o movimento
e vãs pensamentos

Até que num soluço
num choro
num grito
num relaxar dos ombros
o alívio

da escolha.





Azul

Azul
Claro
Amado
Azul
Inteiro
Sem pausas
Azul
Infinitamente blue
Ou yellow

Azul
De sol
Amarelo
Azul
Branco
Do Vento

Azul
Suspenso
Pinta meu corpo
Adormece os pensamentos.

Perdido

Às vezes a gente se perde
e fica procurando...
uma miragem no horizonte,
um vulto num piscar de olhos,
o estremecer  da pele
ao sentir a própria ausência.

Nada,
em lugar nenhum estamos
nem em mim, nem em ti,
nem no outro, nem no sopro.

E o tempo
não sabe o que é tempo
não conhece o passar das horas
dos dias, dos meses...dos anos.

E num certo momento impreciso
entre uma dúvida e outra
na incerteza das probabilidades
posso me reencontrar...

no mesmo lugar,
na mesma idade.