terça-feira, 30 de outubro de 2012

Origami 3

Observo meu rosto envelhecer,
cada ruga,
uma dobradura.

Prova das histórias da vida do papel.
Que de liso foi sendo usado.
viver é dobrar.
É criar vincos na pele.

cada origami que construí
será assim:
parte de mim,
parte de ti,
sempre partes.

Porque não há inteiros.
Essa parcialidade é o que temos de mais complexo.
Pessoas se conhecem,
se dobram, formam elos.

Origami 2

Olho para um lado
e para o outro
sempre uma combinação,
possibilidades de ação.

Nunca enxergo o todo,
apenas  partes
de um complexo
sistema de múltiplos elos.

E essa parcialidade
é o que tenho de mais completo
Dependo sempre de você
para formarmos os elos.

Nos dobramos
um pelo outro
juntos nos construímos
e formamos o todo.



Origami 1

A cada ruga em minha pele,
uma dobra no papel.
Relacionamentos, possibilidades.
Dobras, alteridades.

Uma dobra traz em si suas possibilidades,
há sempre duas partes.
Nos olhos do outro tento me enxergar inteiro...
sou eu, o outro, o entre ou eu mesmo?

Não, não há resposta correta
As combinações são sempre incertas.
Mas o papel que se dobra
se transforma...

Mesmo quando se desdobra,
o vinco da dobradura permanece...
passa a fazer parte da sua história
não desaparece...





segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Um chá

Um chá
com aroma de mar
para eu respirar
seu ar
beber suas vagas
lembrar de amar

Um chá
quente,
que na boca vem deixar
o gosto
das recordações
férias de verões


Conhecer, ser

Espero que dure essa tranquilidade...
que não se vá com o passar do tempo, o avançar da idade...
que tenha definitivamente expulsado a ânsia,
que esta fique apenas na lembrança.

A sensação de ser exatamente quem se é.
O conhecimento de que os medos são rarefeitos.
Tudo é uma questão de imaginação.
Viver é ação.

Na quietude dessa certeza,
de see eu, eu mesma,
quem acorda, adormece, boceja...
olho-me no espelho, falo para a outra:
"Veja"

Somos um e tantos quanto quisermos
vivemos o que acreditamos...
Existem tantas realidades quanto as que imaginamos.

Consciência

Creio que estou chegando lá,
no mesmo lugar
que estou,
mas de um jeito diferente,
me sinto mais consciente.

Tantas conversas plantaram uma semente.
Parei de mentir, para mim.
Assumo o que se passa em minha mente.

Concentro-me em minha própria vida.
Aprecio meus dias
com alegria.

E os maus pensamentos?
Às vezes vêm,
mas com um sopro
expiro-os de meu corpo
e lá se vão
soprados pelo vento.

Dormi

Dormi.
Não resisti.
A despeito do café,
da sobremesa,
da reunião,
do  barulho do trânsito
e da televisão.

Dormi.
Um sono sem preocupação,
de quem não tem hora pra acordar,
de quem só quer sonhar
e não precisa trabalhar.

Dormi.
Numa tarde de sexta-feira,
no meio do expediente,
uma grande besteira.

Dormi.
E menti.
Para todos estava doente,
havia passado mal com o almoço,
pense no sufoco.

Acordei.
estava tudo escuro,
era noite com certeza,
tentei levantar, mas desisti,
me enrolei no lençol e
Dormi.


domingo, 21 de outubro de 2012

Enquanto o vento bate em minha janela

Enquanto o vento bate em minha janela
e sussura palavras doces para eu acordar,
Permanceço.
Durmo.
Os olhos fechados,
cansados.
Não há vento, sol, chuva
ou promessa de felicidade,
que possa me acordar.

Não é que desisti...
No momento não me interesso em ser feliz.
Mal tenho forças para escrever...
Quiçá, levantar e viver.

Só, me resta dormir...
Esperar, talvez sonhar.

Ode ao presente

Quero o discurso da felicidade,
usado para iludir a todas as idades.
A certeza de que tudo dará certo,
esconderijo da obrigação de ser esperto.

Quero juntar todas as palavras de esperança
e dizer-lhes bem alto:
-Vocês não enganam sequer crianças!

Depois do final feliz é o nada.
A história sempre acaba.
A morada da felicidade é o futuro.
E o futuro é sempre nada.

É aquilo que não é.
É o ausente.
Por que viver em busca do que não está presente?
Quem espera pelo futuro
passa a vida no escuro.

Porque a vida é presente,
é tudo aquilo que não está ausente,
é o que você sente.

Não caminhe para as trevas da felicidade.
Não navegue no mar de esperanças,
para não afundar no poço de ansiedade.

Abra os olhos e veja.
Está claro.
Seja dia, seja noite,
sente.
Vive bem quem vive o presente!

Vagas

Vagas

Os pés enterrados na areia
A cabeça nas nuvens
O corpo a flutuar
nas ondas do mar...
Pral á
e pra cá
vaguear...
Só enxergo azul
Meu corpo úmido e quente

ritmado pelo mar
vagueio
pra lá
e pra cá.

Queria ser uma sereia

Queria ser uma sereia
para com meu canto te atrair
ou a estrela mais brilhante
para que enxergasses só a mim.

Mas não, não sou estrela,
sereia, pavão ou princesa.

Não sei jogar.
Não sou dama, peão, dado.
Não entendo os jogos
de sedução ou de azar.

Perdi as aulas de
convenções sociais
procurando tesouros no jardim.
Confesso-te
sou assim.

Portanto, não sejas tão território, meu amado!
Pois sou amadora,
uma péssima navegadora...
Sei que não te conquistarei,
bem antes, num mar de vergonha , afundarei.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Equilibrista

Em cima da corda,
um passo de cada vez.
Tremo, balanço,
canso, mas não descanso.
 Insensatez, eu sei.
Uma vida de equilibrista...
Por favor, me assista!
 Mas não, não há plateia,
nem contrarregra
ou regra...
 eu só...
balanço.
E o vento
E a chuva
E o temperamento
e os meus pensamentos...
canso.
Equilibrista, continuo,
não descanso.