quinta-feira, 25 de abril de 2013

Hotel das Flores

Fora sua última viagem de negócios. Tinha prometido à esposa que se aposentaria. Dessa vez não iria voltar atrás. Foram muitos anos de trabalho, muitas viagens...
Não teria chegado ao patamar que cheguei se não fosse assim.
É, tinham uma vida bastante confortável, uma bela casa, um belo jardim. Mas o quanto ela tivera que suportar... Um marido ausente, por vezes impaciente,  sempre focado no trabalho e as viagens constantes. A solidão de uma casa vazia.
Não tivemos filhos, não houvera tempo. Agora é tarde.
Mas se aposentaria. Receio como será. Mas estava resoluto. Eu prometo, Lídia, vamos recuperar o tempo...
- Chegamos senhor.
- Obrigada. Pagou o táxi, pegou as malas e dirigiu-se a porta de sua casa. apertou a campainha diversas vezes, ninguém atendeu. Remexeu nas malas, achou a chave...entrou. O telefone tocou.
-Alô?!
-Escute-me. venha buscar sua esposa no Hotel das Flores, quarto 1001.
Não teve tempo de responder, a ligação havia sido rompida. Apenas aquela voz masculina ressoava em sua cabeça. Largou as malas onde estavam, correu a casa chamando pela esposa. Sem resposta, saiu em disparada ao hotel, nem a porta da casa fechou.
- Táxi, táxi!. Motorista, por favor, Hotel das Flores...Esse nome?
No caminho, milhares de idéias se passavam em sua cabeça e ao mesmo tempo nenhuma. O que estava acontecendo? o que é tudo isso? Hotel? Lídia não seria capaz de ter um amante, não temos mais idade para isso.
Desceu do táxi e subiu até o quarto 1001. Um homem com uniforme do estabelecimento abriu a porta. Imediatamente viu sua esposa sentada em uma poltrona próxima à janela,  foi até ela. Lídia voltou a cabeça em sua direção  e em seguida tornou a olhar pela janela.
-Meu amor, o que Foi? O que você faz aqui? Olhe para mim! O que está acontecendo? que loucura! Você está doente? Febre? Olhe para mim! Sou eu.
Lídia não respondia, o olhar fixo, mas calmo, em direção à janela.
- O que se passa aqui? Perguntou voltando-se em direção ao funcionário do hotel, mas este já havia saído.
Sem saber o que acontecia a sua esposa, tentou de tudo para chamar sua atenção, fez perguntas e comentários aleatórios, contou como havia sido a viagem, falou até dos planos de aposentadoria.  Ela, imóvel. Ligou, então,  para a portaria do Hotel, ninguém atendeu. O celular! Droga! Ficou dentro da mala.
Molhou um pano e passou pela testa de sua esposa. Chamou-a em voz baixa. Suplicou-lhe que voltasse. Bateu em sua face. Nada. Não quero te deixar só. Que hotel era esse?
Sentou-se na cama. Como as horas passam rápidas. Parecia uma eternidade que estava alí. Olhou o relógio. Sentia-se só. Lídia era seu porto seguro. Era ela quem cuidava dele, nunca o contrário. Não sei mais o que fazer!
- Vou me aposentar, meu amor, lhe juro, decidi. Vou cuidar de você. Volte, olhe para mim, olhe pra mim! Nada adiantava.
Tentou sair com ela do quarto. levantou-a da poltrona. Mas não conseguiu senão alguns passos. Deitou-a na cama e sentou-se a seu lado.
- O que está acontecendo? O que fiz errado? Acorde, acorde. Te amo, não faça isso comigo. Lídia, volte! Chorou.
Exausto deitou-se ao seu lado. Segurou sua mão. Mãos finas, quentes. Ficou a lhe olhar. Como podia ser tão calma? Esse olhar tranquilo. Foi e continuava a ser bonita. A idade lhe fazia bem. As vezes acho que nunca te conheci ao certo...é minha culpa, Desculpa Lídia. Quando foi que deixei de te olhar? Quando foi que parei de escutar teu riso? O que nos aconteceu?
Ergueu-se, sentou-se ao lado da esposa e começou a despir-lhe a roupa lentamente. Prestava atenção em cada parte de seu corpo. Cada dobra, ruga de expressão, cada sinal do tempo despertava em sua cabeça  lembranças de um passado quase esquecido. A primeira vez nos vimos...o beijo! Vibrava só de te ver, como eramos jovens. quantas vezes fiquei escondido te espiando...o teu sorriso.
Despiu-se e entregou-se ao universo de Lídia, de corpo, de alma, inteiro.
...
Acordei, quarto 1001. Lídia já estava de pé, colocava as flores do nosso casamento em um jarro, sorriu quando me viu acordado e  afastou as cortinas.
- Meu amor, meu marido! Eu te amo e vou te amar para sempre!
O quarto cheirava a Lídia.
Levantei-me, fui ao seu encontro. Abraçados, nos beijamos e ficamos a admirar  a paisagem pela janela do hotel, era primavera.
- Quantos anos faz?
- Muitos.
- Por que te abandonei...
- Sempre te esperei. Mas foram  tantos anos que não lembrava mais ao certo de teu rosto, de teu corpo, de tua voz... Como não te achava mais dentro de mim, saí de casa, resolvi te procurar e pensei que aqui te encontraria. Deixei recado de que estava em teu aguardo,  me sentei e esperei. Desculpa se não te reconheci, se não te ouvi, me perdoa, foi a distância, a ausência, eu não queria, eu esqueci...
- Me desculpe, meu amor. Não diga nada. Foi uma longa viagem, mas voltei. Nos encontramos. Vamos recomeçar... Carinhosamente a beijei.
E como há muitos anos descemos do Hotel das Flores, quarto 1001, de mãos dadas, casados, felizes, com uma vida pela frente.



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