terça-feira, 29 de maio de 2012

Carol

Carolina acordava todos os dias com aquele resquício do sono que ainda faltou ser dormido. Mas não se queixava. Desligava o despertador e se levantava.
Ainda entre sonhos que teimavam em continuar arrastava-se para o banheiro. Água, banho, café, roupa, café, notícias na TV, maquiagem, escova de dentes, chave, sapato, “eita o desodorante”, elevador, bom dia, constrangimento, espelho, carro, transito....trabalho.
Afogada na rotina, os dias passavam. E a noite era tão curta...Ou lia, ou assistia um filme, ou estudava, ou corria, ou arrumava a casa, ou...ou. “Tenho que dormir, amanhã acordo cedo”. Tantos “ous”, tantas escolhas e tão pouco tempo – pensava.
Foi  num dia qualquer, entre uma e outra escolha, checando o e-mail, olhando o vazio pela janela e escutando o noticiário da TV que Carolina parou de calçar o tênis e chorou.
Foi um choro inconsciente, da solidão escondida, do ar sufocante e da velocidade a que se sentia submetida.
Carolina tinha amigos, tinha família e todos gostavam dela. Achavam ela uma garota bem-sucedida, independente, inteligente, bonita. Uma mulher forte, de fibra, por isso mesmo não lhe chamavam Carol. Não tinha apelido, era apenas Carolina.
Chorou e não calçou mais o sapato. Ligou pra família e disse que era frágil. Falou pela primeira vez de tudo o que sentia, que também sofria, que estava cansada e que esse mundo de obrigações e correria mata. Falou para a mãe que queria cafuné, que queria deitar e não ficar de pé, que se sentia só, às vezes perdida, que de tantas “coisas” para fazer sumia.
A mãe lhe escutou e pela primeira vez lhe chamou de Carol. Conversaram como duas amigas  e Carol se sentiu muito querida.
Dormiu no chão, na sala, pensando em todos aqueles a quem amava, em todas as coisas de que gostava.  Acordou com a claridade do sol e fez o mesmo de sempre, só que com uma diferença...aproveitou cada momento, cada de repente.

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